Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo –
Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884
Visita de Silva Cunha à Guiné
Estive em JOLMETE de Maio de 1969 a Março
de 1971. Tive umas férias merecidas de um mês na metrópole de 10 de Março a 10
de Abril de 1970. Sair do mato ao fim de 10 meses de intensa actividade
operacional foi um grande ronco. Embarquei no 707 da TAP que, por acaso, levou o
Sr. Ministro Silva Cunha e outras individualidades a visitarem a Guiné no dia
10 de Março. Deste acontecimento tenho algumas fotos que mostrarei mais a
baixo.
No Aeroporto de Bissalanca havia grande
agitação. Eu não sabia a causa, certamente não era porque eu iria de férias.
Após algumas perguntas fiquei a saber da visita do Sr. Ministro Silva Cunha à
Guiné. Esperava-se a chagada do avião da TAP com o Sr. Ministro e acompanhantes
da Metrópole. Tirei algumas fotos da chegada e desembarque da comitiva, mas
como a minha meta era embarcar para férias, não liguei muito a este
acontecimento.
Foto Nº 1: O
aeroporto todo engalanado
Foto Nº 3: Saída
dos ilustres passageiros
Foto Nº 4: Sessão
de cumprimentos
Chegado a Jolmete depois das férias, por
volta do dia 11/12 de Abril, fui informado que o Sr. Ministro Silva Cunha e
comitiva tinham estado lá a visitar “o aquartelamento” no dia 16 de Março. Nessa
altura fiquei com pena por não ter explorado mais, fotograficamente, a chegada
da comitiva, no entanto, apesar de eu não estar em Jolmete nesta altura, havia
sempre alguém que tirava algumas fotos.
Digo isto pois eu era considerado o
fotógrafo da companhia por todos. Neste caso foi o Furriel Rodrigues, na altura
comandante do 1º grupo de combate, pois o Alf.
Almendra tinha sido graduado em Capitão e
era comandante da Companhia. Eu adquiri cópias, que são as que mostro a seguir.
Segundo o que me lembro do que contaram a
visita correu muito bem. Não houve problemas de qualquer espécie. Não nos
podemos esquecer que nessa altura a zona estava apaziguada. Só no dia 20 de
Abril é que a coisa voltou a aquecer, com o assassinato dos Oficiais do CAOP.
Terminada a visita os três helis saíram
de Jolmete para Teixeira Pinto, pois iriam deixar os elementos do CAOP. Como
não estive lá, não sei precisar quantos oficiais do CAOP acompanharam o Sr.
Ministro e o S. General Spínola, mas pelo menos o comandante, Sr. Coronel
Alcino e o Sr. Major Osório, estiveram lá, como se pode verificar em muitas
fotos. O Sr. Major Osório normalmente aparece de costas.
Foto Nº 6:
Alferes Marques Pereira, de Oficial de dia, cumprimenta o Sr. Ministro Silva
Cunha e o Sr. General Spínola bem, como as outras individualidades.
Foto Nº 10:
Visita à nossa capela. Do lado esquerdo vemos o Sr. Major Osório (de costas) a
ver as nossas publicações
Jolmete era um aquartelamento exemplar no
mato. O Sr. General Spínola tinha um fraquinho por Jolmete. Esta mensagem
foi-nos transmitida logo à chegada no discurso de boas-vindas. Os nossos antecessores
da C. Caç. 2366 comandados pelo Sr. Cap. Barbeites, construíram o quartel quase
ou totalmente de raiz, e nós continuámos e concluímos. Eles tiveram uma forte
actividade militar, nós continuámos com saídas praticamente diárias, o que nos
livrou de ataques ou flagelações ao aquartelamento durante toda a comissão.
Fizemos uma pequena festa no Natal de
1969, com algumas cerimónias e brincadeiras para a população e tropas, como “o
astear da Bandeira”, “sessão de variedades”, “danças regionais”, “entrega de
lembranças aos filhos da nossa população” (soldados naturais e milícias), etc.,
com a presença do Sr. Major do SM António Goulart Branco, que no final fez um
elogioso relatório, que publico a seguir.
Foto Nº 12:
Distribuição de prendas aos meninos da população, filhos dos milícias e
soldados Nativos do Pel. Caç. Nat. Nº 59
Foto Nº 13:
Meninos da população na cerimónia da astear da Bandeira
Disse atrás que o Sr. General Spínola
enchia a boca com Jolmete, e era verdade. Tivemos algumas visitas de
estrangeiros e militares de outras zonas que lá iam ver o aquartelamento. Não
esqueço uns repórteres do “Washington Post” que foram fazer uma reportagem
filmada, de que tenho fotos, mas que comentarei em outra altura, para não
tornar este apontamento muito pesado.
Construímos, entre outras coisas dois
abrigos, a vala de defesa em volta do quartel, uma escola, um posto médico, 24
casas para a população civil, etc, graças à nossa equipa de pedreiros, como o
Firmino, o Ramos, o Lima, o Spínola (não confundir com o nosso General), e
outros de que não me recordo os nomes, mas que de seu modo, deram o corpo ao
manifesto, erguendo uma obra que após a independência foi toda destruída.
Foto Nº 15: Grupo
dos principais mestres-de-obras no nosso quartel
Foto Nº 16:
Quartel de Jolmete passado pouco tempo de lá chegarnos
Foto Nº 17: Vista
do aquartelamento e casas que construímos para a população e que deixámos para
os que nos substituíram, C.Caç. 3306
Foto Nº 18: Eu
junto ao memorial da C. Caç. 2366 e da C. Caç. 2585
Pouco sei da companhia que nos sucedeu, a
3306. Se alguém souber algo desta Companhia, agradeço que me informe, pois
gostaria de saber, pelo menos, o que foi feito do Rádio-receptor de OM e OC, a
válvulas e com retransmissor em OC, para que todo o pessoal nas casernas
pudesse ouvir a Emissora Nacional a partir das 17/18 horas e não só, que eu
deixei para eles.
Além das retransmissões também fazíamos
programas em directo de discos pedidos, com os poucos recursos que tínhamos. O
estúdio era montado no quarto do nosso primeiro Vinagre, no edifício do
Comando. O locutor principal era o colega Alf. Marques Pereira e Alf. Godinho,
além de outros, como o Furriel Pargana (ilusionista que engolia agulhas), o
Furriel Meireles, que cantava o “Alfredo Marceneiro”, etc.
Por falar nisto, era muito bom que se
alguém tiver alguma cassete gravada desses programas e que se dispusesse a
emprestar para que, com as tecnologias de hoje, a pudéssemos todos ouvir neste
blog. Resta dizer que este aparelho foi totalmente construído e adaptado para
retransmissão por mim. Muitas das peças usadas foram retiradas de rádios
apanhadas ao IN.
Foto Nº 19 e 20:
O meu rádio-receptor “Radio Escola” adaptado para retransmissão
Olá João Tunes
Lembras-te do Alf. de Jolmete que “mexia”
nos Rádios? Sou eu. Sei que a coisa esteve preta, mas se eu não o tivesse
feito, não conseguíamos contactar com o Sr. Major Passos Ramos ou Osório do CAOP
que voavam sobre nós numa DO, e que sempre nos acompanhavam. Um grande abraço.
Manuel Resende (Ferreira)