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28 de dezembro de 2012

Post Nº 4 - Alferes, temos que tramar o Capitão

Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete  (Pelundo – Teixeira Pinto)
Ccaç 2585 – Bcaç 2884)














“ALFERES, TEMOS QUE TRAMAR O CAPITÃO”
(Esta estória tem como objectivo fazer uma pequena homenagem ao DANDI)

O nosso Capitão, António Tomás da Costa, já nos tinha prevenido durante o IAO, no Pragal, que seria promovido a Major em Agosto de 1969, e que por esse motivo teria de deixar a Companhia. Ele era do Quadro portanto as promoções tinham data certa. Teríamos de nos mentalizar que iríamos ter outro comandante durante a nossa comissão.

A Companhia 2585 chegou a Jolmete a 17-05-69, e após o tempo de sobreposição com a 2366 ficamos entregues a nós próprios , e fizemos a guerra à nossa maneira, como já foi dito noutra publicação neste, em “A MINHA GUERRA”, poste Nº 7151 do Blog Luis Graça & Camaradas da Guiné. Praticamente saíamos para o mato todos os dias e patrulhávamos sempre os possíveis trilhos por onde o IN poderia vir para atacar ao quartel, ou trilhos de passagem de grupos, pois a nossa zona era essencialmente de passagem da Coboiana para Ponta Nhaga.

Normalmente levávamos um grupo de combate, parte do Pelotão de Caçadores Naturais Nº 59 e alguns elementos do Pelotão de Milícias Nº 128 comandados pelo Cajan. Periodicamente, ou quando havia indícios de passagem de colunas do IN as operações eram a nível de dois grupos de combate, Pelotão de Caçadores Naturais e Pelotão de Milícias quase sempre comandados pelo Dandi. Não é minha intenção fazer aqui um relato das operações que fizemos, mas somente salientar a brincadeira que por iniciativa do Dandi e com a nossa colaboração fizemos ao nosso comandante de companhia que estava prestes a abandonar Jolmete para ir para o QG em Bissau já como Major.

Estávamos em fins de Julho/princípios de Agosto de 1969, quando o Dandi veio ter comigo e comentou: Alferes, então o Capitão nunca saiu para o mato e quando faz o relatório das operações assina sempre como comandante da operação, e Alferes não diz nada? Um dia destes temos de o levar a dar uma volta. Aceitei de imediato a sugestão, mas disse-lhe que tinha de ser uma “volta” sem riscos, pois a nossa consideração por ele era grande, pelo menos da minha parte.

Falei com o Alf. Marques Pereira, comandante do 3º grupo de combate e com o Alf. Mosca, comandante do pelotão de Caçadores Naturais Nº 59, e os três juntamente com o Dandi organizamos uma operação, à partida sem riscos de contacto com o IN, mas que seria, logo pelo fresquinho da manhã atravessar uma bolanha com água pela cintura, daríamos uma volta ao quartel e regressaríamos por outro lado atravessando outra bolanha. Esta foi a maldade sugerida pelo Dandi. Nada de mal, mas que serviria para ele ter uma noção do que custava sair para o mato todos os dias.

A primeira parte da operação e a mais importante seria convencer o nosso Capitão a aceitar ir comandar no terreno. Já não me lembro dos pormenores, mas foi-lhe dito que era uma operação de caça, e ele aceitou. Os Furriéis também foram informados da operação a brincar, mas íamos preparados para o pior, pois eventualmente poderia haver algum contacto.

O nosso Capitão apresentou-se cedinho, equipado a rigor de G3 e cartucheiras à cintura, tudo como mandava a sapatilha. Ele tinha uma caçadeira calibre 12 automática de 5 tiros e pediu a alguém para a levar, dizia ele que no regresso podia aparecer alguma gazela. Esta arma era usada pelo Dandi para caçar, e foi-lhe oferecida antes da sua partida para o QG em Bissau.

Andados alguns Kms por trilhos e corta mato, já com a roupa seca no corpo após o atravessamento da primeira bolanha, chegámos a um pequeno descampado com um bom embondeiro a fazer sombra. Estávamos numa zona em que, pela nossa experiência, não haveria problema, e não houve. Eu, para esta operação e pela primeira vez, até levei a minha máquina fotográfica, e seguia relativamente perto do Capitão.

O Dandi em vez de ir na frente, como costumava, ia como guarda-costas dele. À ordem de parar para descansar todo o pessoal emboscou. Diz-me ele: ó Ferreira, (eu na tropa era Ferreira) tire uma fotografia para recordar esta operação. Chamou os Alferes e alguns Furriéis que estavam mais próximos para ficarem na foto. Estava eu a fazer o enquadramento e diz-me ele: alto, não tire ainda para eu compor as cartucheiras, quero ficar com um ar de guerreiro.

Acabado o descanso continuamos o nosso percurso, e eis senão quando aparece outra bolanha. Mais uma vez água pela cintura. Diz o Capitão: ó Dandi, então não havia outro caminho para evitar a bolanha? É que isto de secar a roupa no corpo é muito desconfortável… Não me lembro quantas fotografias eu tirei nesta operação, mas a única que tenho é a Nº 1, já anteriormente publicada, mas agora com legenda. Este pequeno episódio foi verídico no seu essencial, embora 43 anos depois a memória já não ajuda nos pequenos pormenores.


Foto Nº 1 – Operação de patrulhamento comandada pelo Sr. Cap. Tomás da Costa
1-Cap. Tomás da Costa, 2-Dandi, 3-Alf. Joaquim Mosca, 4-Alf. Marques Pereira, 5-Fur. Meireles, 6-Fur. Guarda


 Foto Nº 2 – Jantar de festa no refeitório dos soldados
1- Cap. Tomás da Costa, 2-Alf. Joaquim Mosca, 3-Alf. Ferreira (eu), 4- Fur. Meireles, 5-Fur. Furtado (enfermeiro)


Foto Nº 3 – Um cafezinho depois do almoço
1-Cap. Tomás da Costa, 2-Alf. Godinho, 3-Alf. Marques Pereira


Foto Nº 4 – Cap. Tomás da Costa com a esposa e as duas filhas numa visita a Jolmete


A seguir vou apresentar todas as fotografias que tenho tiradas com o Dandi. No meu tempo ele tinha sete esposas e sempre com ânsia de arranjar mais, pois quantas mais tivesse maior era o seu estatuto social, dizia ele. Teria cerca de 25/30anos de idade e era Natural do Jol, portanto, em princípio seria Manjaco. Os proventos dele resumiam-se à caça que fazia e vendia à Companhia e às saídas para o mato, pois ele recebia por cada operação que fazia. Era uma pessoa leal, não me lembro de qualquer desavença que possa ter havido. O seu nome era ”DASSIM DJASSI”. Numa das visitas que o Sr. General Spínola fez a Jolmete, prometeu que o iria propor para uma Cruz de Guerra, mas segundo as minhas últimas informações ele talvez nunca a teria recebido. Teve sim umas férias em Lisboa, mas sinceramente não sei de pormenores.

Não me admiro nada que, devido às burocracias militares,  não tenha sido possível atribuí-la, pois nem sempre o QG fazia o que o Sr. General queria. Veja-se o caso das graduações de Alferes em Capitão, que deram que falar naquela altura. Na minha Companhia o Alferes Almendra, graduado em Capitão e comandante da mesma durante cerca de 18 meses, hoje Coronel reformado, depois da saída do Sr. Major Tomaz da Costa, na altura do regresso à Metrópole, ainda recebia o vencimento de Alferes e sem aumento. Lembro que em Outubro de 1969 houve aumentos de vencimentos. Coisas de Marcelo Caetano.

Claro que depois tudo terá sido regularizado, mas não era como o Sr. General queria. Lembro que no jantar de despedida no palácio do Governo, o Sr. General Spínola falou no assunto e disse ao Cap. Almendra que iria receber até ao último centavo, nem que para isso tivesse de pagar do seu bolso.


 Foto Nº 5 – Dandi junto aos memoriais da 2366 e 2585


Foto Nº 6 – eu com o Dandi e uma das esposas


Foto Nº 7 – eu com o Dandi em pose para a foto



Manuel Resende (Ferreira)