Augusto
Silva Santos
Fur.
Mil. da CCAÇ. 3306 de Jolmete - (Pelundo-Teixeira Pinto)
9
- Operação “Tábuas”
Felizmente
para a minha Companhia, a questão das minas nunca chegou a ser um verdadeiro
problema. Sabíamos da sua existência, temíamo-las, mas foi um autêntico milagre
nunca termos feito accionar qualquer engenho.
Sendo
o Chão Manjaco uma região essencialmente de passagem para os elementos do
PAIGC, penso que esse terá sido o principal factor para tão poucos registos
relativamente a minas. Falava-se até (obviamente sem qualquer confirmação
oficial) que em tempos houve uma tentativa de minar alguns trilhos utilizados
pelo inimigo, mas alguns dias depois as minas haviam sido levantadas e, no
local, estaria a seguinte mensagem espetada num pau por parte do PAIGC: “ Se
continuarem a minar os nossos trilhos, nós também minamos os vossos. Parem!”
Sinceramente
foi algo em que na altura me foi difícil acreditar, pois mais parecia um
daqueles episódios de guerra contados pelo Raúl Solnado, mas o que é certo é
que, como já anteriormente referi, durante toda a comissão não houve qualquer
registo de incidentes com minas.
Assim,
foi com certa surpresa, mesmo já no fim da comissão, que fomos “obsequiados”
com a notícia de termos de ir levantar um campo de minas antipessoal existente
na região de Pepantar, mais propriamente na Bolanha de Ponta Vicente, sobre o
qual só sabíamos da sua existência através de um croqui já muito antigo e,
obviamente, desactualizado.
Chegados
ao suposto local, foi com muita dificuldade que, dadas as alterações do terreno
e dos pontos de referência assinalados, conseguimos chegar a alguma conclusão.
Importa salientar que o referido campo não fora montado por nós, e que já ali
se encontrava há alguns anos.
Tentando
seguir todas as regras que nos haviam sido ensinadas para estes casos (mas sem
a devida prática) e, na ausência de verdadeiros especialistas na matéria
(sapadores), lá fomos tentando identificar os possíveis locais onde as nossas
“amigas” deveriam estar porém, sem resultados práticos. Ao fim de algum tempo lá
encontrámos dispersas, mas já muito deterioradas, duas das famosas tabuinhas
(se bem me recordo do tipo dos caixotes de madeira da margarina), sob as quais
as mesmas se deveriam encontrar, mas quanto a elas, “népia”.
Como
é lógico começámos a ficar algo baralhados e preocupados com a situação, pois
por acção das águas da bolanha, as mesmas poderiam já não se encontrar nos
locais onde supostamente deveriam estar. Assim, por uma questão de segurança,
abandonámos o local antes que pudesse ocorrer alguma tragédia, pois o mais
provável era tanto eu como o Alferes que à minha frente seguia com o croqui, já
termos passado por cima de alguma, além de que já nos encontrávamos expostos no
local há bastante tempo. Qual picagem qual quê, quanto a minas, nada…
Segundo
nos explicaram mais tarde, das três uma, ou os nossos “amigos” do PAIGC
tê-las-ão levantado /neutralizado em devido tempo, ou a acção corrosiva das
águas acabou por as deixar inoperacionais (graças a Deus…) visto
tratarem-se de minas antipessoal metálicas já com muitos anos, ou então poderiam
ter sido de facto arrastadas para um local diferente devido a alguma corrente mais
forte das águas da bolanha. Sendo minas metálicas, sinceramente na altura
achámos uma situação pouco provável.
Não
sei bem o que mais tarde ficou decidido fazer, mas falava-se na possibilidade
de solicitar a presença de sapadores, e também de se abrir fogo para o local
para provocar o possível rebentamento das minas, para o caso de elas
efectivamente ainda lá estarem.
Que
me desculpem os especialistas na matéria (minas e armadilhas), se eventualmente
cometi aqui alguma incorrecção, mas é desta forma que me lembro deste insólito
(ou não) acontecimento.
Foi
assim que, sem minas, acabámos por ficar apenas com duas velhas tabuinhas nas
mãos.
49-Jolmete -
Junho 1972 Trilhos de Pioce
50-Jolmete - Junho 1972 Trilhos de Pioce
82-Jolmete - Novembro 1972 Bolanha de Ponta Vicente
83-Jolmete - Novembro 1972 Bolanha de Ponta Vicente
04-08-2012
Augusto
Silva Santos
Publicado
por
Manuel
Resende (Ferreira)