José Rodrigues Firmino
Sol. Atir. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884
Caros Camaradas e amigos:
Vou publicar um texto que escrevi para uma pessoa que está a fazer um livro
sobre o assunto, e publico neste blog, para que todos os meus amigos e camaradas
o possam ler.
José Rodrigues Firmino
Nasci
a 29 de Junho de 1947
Fui incorporado no RI 14 (Regimento de Infantaria de Viseu),
Especialidade no RI 1 (Regimento de Infantaria Um da Amadora) e
IAO no Pragal (Almada). IAO quer dizer Instrução de Aperfeiçoamento
Operacional, e era feito imediatamente antes do embarque para a guerra.
Fiquei a pertencer à Companhia de Caçadores “2585 – É AQUELA MÁQUINA” e ao
Batalhão de Caçadores “2884 – MAIS ALTO”
O texto a seguir apresentado foi escrito por mim em 2013 e publicado no
blog “Memórias de Jolmete”. Aqui resumo a minha passagem por Jolmete, no Norte
da Guiné.
Ver “MEMÓRIAS DE JOLMETE” – Post Nº 8-Uma história de vida
***
Uma história de vida:
Sou José Rodrigues Firmino, presentemente com 65 anos de idade, e aproveito
para trazer aqui um pouco da minha passagem pela Guiné Bissau, antiga colónia Portuguesa,
enquanto militar. Decorria a década de sessenta, mais concretamente o dia 7 do
mês de maio de 1969, quando no cais marítimo de Alcântara em Lisboa, eu e
tantos outros jovens rumamos para a Guiné Bissau, com o objetivo de cumprir o serviço
militar obrigatório, numa das ex-províncias Ultramarinas, que com muita mágoa
minha, alguns teimam em esquecer ou ignorar.
Na hora marcada, lá estava atracado o cargueiro Niassa, pronto para levar,
jovens tirados precocemente aos seus pais, namoradas e até mulheres, rumo
aquele País para nós desconhecido, para uma guerra que nunca desejamos e
desconhecíamos. A viagem foi muito dolorosa e atribulada, para começar a
alimentação era péssima, as camas ali chamadas de “tarimbulas” eram feitas em
madeira, algumas casas de banho eram barracos cobertos com chapas de zinco.
Cargueiro Niassa
Chegados à Guiné Bissau lá estavam à nossa espera viaturas militares para nos
conduzirem até à lancha que nos levaria, Mansoa acima, até Teixeira Pinto.
Dormimos três noites numa escola, em que os nossos colchões eram simplesmente o
chão da própria escola. Após três noites de estadia em Teixeira Pinto outra
etapa nos aguardava, irmos para o nosso destino, Jolmete, que ficava a 20Km de
distância. Organizada a coluna, viaturas militares nos levaram para a zona de
Jolmete, uma das zonas mais isoladas da Guiné.
Por fim chegados a Jolmete (onde estive toda a comissão de serviço),
fomos distribuídos por diversos pelotões,
começando ai o nosso tormento.
Todos os dias pensava se conseguiria chegar ao dia seguinte, felizmente
cheguei outros não tiveram a mesma sorte
infelizmente.
Aquartelamento em Jolmete
Mesmo com a nossa juventude, sabendo que tínhamos de lutar, para não
morrer, sinto orgulho de ter podido continuar com nosso trabalho, ajudar na melhoria
das condições de vida daquelas populações. Construímos 22 tabancas
(habitações), não direi excelentes, mas muito melhores do que as existentes,
uma escola, uma cozinha comunitária, um abrigo para um grupo de combate, uma
padaria, etc.
Lutando e construindo.
Inauguração da Escola
Para além do trauma de guerra, revolta-me o esquecimento por vezes até o abandono
a que todos os ex-combatentes estão sujeitos por parte de grande parte da sociedade
e muitos governantes em geral.
Desconhecem que muitos perderam a vida, outros regressaram com deficiências,
muitos nunca conseguiram ultrapassar o trauma da guerra. Há relatos que alguns ex.
Combatentes, para além de estarem na miséria, passam fome.
Adoro o meu País defendi a nossa bandeira, ignorados jamais esquecidos.
Tenho pelo povo Guineense a maior consideração e estima estais para sempre no meu
coração. Ainda hoje pelo que acabei de transcrever modestamente vamos ajudando
o povo Guineense e suas populações com o envio de sementes e outros bens,
abertura de poços com água potável, livros, material didáctico, etc.
Assim termina o testemunho de alguém que, mesmo contrariado, sente orgulho
em ter servido o seu pais, defendendo a sua bandeira.
José Rodrigues Firmino (Março de 2013)
***
Disse atrás que muitos camaradas perderam a vida na guerra, e da minha
Companhia tivemos quatro mortos:
o Soldado António Barbosa e o Milícia João
Silva, vítimas de acidente com arma de fogo no dia 27 de Maio de 1969;
o
Soldado Indibe Sambú e o Milícia Dante Cadí em 22 de Junho de 1969, um mês depois, estes em combate, vítimas de uma emboscada.
Eu na Capela lembrando os nossos mortos
A minha Companhia teve uma actividade operacional muito grande, com saídas
diárias para o mato, a par dos trabalhos de construção civil e alfabetização da
população.
Ver “MEMÓRIAS DE JOLMETE” – Post Nº 6-Actividade Operacional da CCAÇ 2585-É
aquela Máquina
Tivemos também dois louvores do Comando-Chefe da Guiné, Sr. General Spínola
pela actividade desenvolvida no âmbito da nossa Companhia e que transcrevo, mas
também podem ser vistos no blog atrás citado:
Ver “MEMÓRIAS DE JOLMETE” – Post Nº 13-Louvores e Condecorações
Durante a minha comissão ocorreu um acto terrorista, mais concretamente a
20 de Abril de 1970, e que foi o que mais me marcou em toda a comissão, quer
pela brutalidade dos assassinatos, quer pela proximidade do meu quartel.
A morte (assassinato) de sete pessoas, desarmadas, em prol da paz na Guiné.
São eles:
Major Passos Ramos
Major Magalhães Osório
Major Pereira da Silva
Alferes Joaquim Mosca (da minha Companhia)
Dois condutores dos Jipes
Um Tradutor
Ver mais pormenores em:
“MEMÓRIAS DE JOLMETE” – Post Nº 2-A minha Guerra
Terminada a comissão na província da Guiné em Fevereiro de 1971, regressei à Metrópole no
cargueiro Uíge, tendo desembarcado no dia 2 de Março de 1971.
Cargueiro Uige
José Rodrigues Firmino
Dezembro de 2015
Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)