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26 de setembro de 2015

Post Nº 35 - Nada de "Mariquices" (8)

Augusto Silva Santos
Fur. Mil. da CCAÇ 3306 de Jolmete - (Pelundo - Teixeira Pinto)













8 - Nada de “Mariquices”

Foi no já longínquo dia 3 de Março de 1972 (uma 6ª Feira), que recebemos indicação para mais uma acção tida como normal, com progressão de dois Grupos de Combate na região de Bagula, e respectiva emboscada em possível local de passagem de elementos do PAIGC. Tratou-se de uma actividade diurna e, quando já nos preparávamos para o possível regresso ao quartel, recebemos a informação que deveríamos pernoitar naquele local, visto que no dia a seguir estava programado juntar-se a nós mais um Grupo de Combate reforçado por elementos do Pelotão de Caçadores Nativos e alguns voluntários, para uma acção conjunta em Badã / Ponta Nhaga.

Esta alteração de planos teve origem no facto de um caçador, elemento da população, ter passado nesse dia a informação, haver perto da bolanha de Badã um acampamento de passagem utilizado pelo PAIGC, onde estaria concentrado armamento e víveres vindos de Ponta Matar, com destino provável à região do Churo/Caboiana.

Fomos assim surpreendidos com o facto de termos de pernoitar no mato sem que para isso o pessoal estivesse devidamente preparado / equipado. Como é sabido por quem pelas matas da Guiné andou, ao calor sufocante e húmido do dia, a seguir vem o frio e o cacimbo da noite, por vezes com temperaturas bastante baixas, de fazer tremer o queixo.

Foi assim que, a partir de determinada altura, parte do pessoal já batia o dente, encontrando-se bastante irrequieto, situação nada conveniente para aquilo que deveria ser uma emboscada nocturna. Como o problema se começasse a agravar, eu e os restantes graduados começámos a sugerir ao pessoal que se juntassem em pequenos grupos de 3 ou 4 elementos, e se aconchegassem uns aos outros, para com o calor corporal se irem mantendo mais ao menos aquecidos.

Recordo ainda o espanto que foi para o pessoal tal sugestão, pois para a maioria deles era impensável passar uma noite agarrado a outro homem, fosse por que motivo fosse, com alguns a dizer mesmo que não alinhavam nesse tipo de “mariquices”. Só que o frio começou a apertar cada vez mais, e não tardou que a solução fosse mesmo de nos juntarmos para manter uma temperatura que nos permitisse passar melhor a noite e a madrugada.

Infelizmente para nós o dia seguinte foi um com as piores recordações para a nossa Companhia, dado termos sofrido no decorrer da acção já referida um total de 10 feridos, alguns dos quais com bastante gravidade (o Capitão Comandante de Companhia, 2 Alferes, 3 Furriéis, 2 Soldados, 1 Milícia e o próprio Comandante da Milícia, o famoso Dandi).

Tirando este aspecto negativo, que recordo com alguma dificuldade dado ainda me lembrar da dor e sofrimento dos meus camaradas (dos 13 que estávamos mais ou menos juntos eu fui um dos que escapou sem qualquer ferimento), recordo também que durante algum tempo muitos dos soldados ainda evitavam falar na situação de terem pernoitado agarrados ao seu semelhante, com receio de serem gozados ou apelidados com adjectivos mais ou menos pejorativos, quando a conversa para aí decorria. Eram outros tempos.

Anos mais tarde, mais uma vez no decorrer de um dos almoços comemorativos da Companhia, um desses ex-Soldados virou-se para o seu filho, também presente no acto, mas desta vez com um sorriso bem rasgado e sem qualquer pudor, disse alto e bom som: - “Olha filho, já dormi uma noite no mato agarrado a este Furriel”. Claro que a risada foi geral.


13-Jolmete - Março 1972 Acapamento PAIGC em Badã


14-Jolmete - Março 1972 Acapamento PAIGC em Badã


39-Jolmete - Junho 1972 Traseiras do meu abrigo


40-Jolmete - Junho 1972 Tempo de matar a sede...


42-Jolmete -  Junho 1972 Entrada do meu abrigo




02-08-2012
Augusto Silva Santos

Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)