Augusto
Silva Santos
Fur. Mil.
da CCAÇ 3306 – Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
4 - DE
CAÇADOR A CAÇADO
Estando a
época das chuvas em plena actividade e, consequentemente os reabastecimentos
por via terrestre à Companhia demoradas por tempo indeterminado dadas as
dificuldades de acesso a Jolmete, nalgumas ocasiões começava a escassear a
comida dita normal, pelo que o recurso à mais variada alimentação de ocasião
era absolutamente comum, embora repetitiva e nem sempre do nosso agrado.
Assim,
passados alguns dias nesta rotina alimentar, o pessoal começava a ficar farto
das rações de combate e de outro tipo de alimentação à base de conversas,
sempre com o arroz presente, pelo que era igualmente normal o recurso aos mais
variados estratagemas para se arranjar algo fora daquele esquema.
Uns
recorriam ir à tabanca na tentativa de arranjar um leitão ou um frango (nem
sempre da forma mais correcta), ou mesmo comprar alguns peixes apanhados pela
população nos braços do rio Cacheu. Outros tentavam caçar algo, se bem que da
caça grossa estivéssemos dependentes de quem sabia onde efectivamente a podia
fazer, nomeadamente de noite, como era o caso do Comandante da Milícia, de seu
nome Dandi. Ainda me lembro de ter comido hipopótamo, gazela, e búfalo.
Da outra
bicharada menor encarregávamo-nos nós de tentar caçar, quase sempre à volta do
quartel. Lembro-me de numa ocasião me terem dado a comer macaco que alguém
caçou numa armadilha, julgando eu que era cabra do mato. Na altura foi um
manjar. Este era o meu caso que, beneficiando do empréstimo de uma espingarda
de pressão de ar de 5,5mm (*), lá me ia aventurando a caçar alguma pardalada
para o petisco (o lema era tudo o que voasse era bom para comer), e assim lá me
iam orientando com as mais diversas aves e, quando a sorte estava do meu lado,
com algumas rolas e pombos verdes à mistura, para a partilha com os amigos mais
próximos.
Acontece
que numa dessas minhas deambulações pelas cercanias do quartel, e sempre
avisando as sentinelas de que andaria por ali perto, mais propriamente pela
orla da mata, sou surpreendido pela correria mais ao menos desenfreada de uma
bajuda acompanhada pela sua mãe, a qual passando por perto me gritou bem alto:
- Fuji Furriel, fuji…
Escusado
será dizer que, qual “Carlos Lopes”, deitei a correr quanto pude e só parei
ofegante já dentro do quartel. Na altura não vi ninguém, mas no outro dia ao passarmos
com uma patrulha pelo local e num sítio um pouco mais afastado, lá estavam as
marcas de algumas sandálias de plástico, daquelas tão bem conhecidas de todos
nós e que eram usadas pelo PAIGC.
Por pouco
não virei de caçador a caçado…
Obs. (*)
Importa salientar que, passados 40 anos, vim a saber que a espingarda pressão
de ar utilizada, foi aquela que o Manuel Resende também utilizou nas suas
caçadas, e que lá deixou para o pessoal da CCAÇ. 3306.
E que
arranjo nos deu!
Jolmete Agosto 1972 Trilhos de Gel - Caláque
Jolmete Agosto 1972 Convívio
Jolmete Agosto 1972 Estrada de Gel
Jolmete Agosto 1972 Estrada Velha de Bula - Ponta
Catel
15-07-2012
Augusto
Silva Santos
Nota de
Manuel Resende:
Esta
pressão de ar, Diana 35 de 5,5 de calibre, foi comprada na casa Pintosinho de
Bissau, a meu pedido, pelo nosso 1º Sarg. Vinagre numa das suas deslocações
mensais a Bissau em 1970. Já não me recordo o preço, mas, antes de regressarmos,
vendi-a a alguém que a comprou por um preço simbólico. Devo dizer que a 100
metros não falhava uma perdiz ou uma rola das negras (que eram maiores). Também
muitos pombos verdes caíram, até descobrir que tinham muitos bichos nos
intestinos. A estreia e afinação de pontaria foi com um abutre, de que tenho
uma foto no meu álbum.
Publicado
por
Manuel
Resende (Ferreira)