Augusto
Silva Santos
Fur.
Mil. da CCAÇ 3306 de Jolmete - (Pelundo - Teixeira Pinto)
7 - Os “Cubanos”
Já perto do final da comissão do B.Caç.3833 (Out.1972), o então Comandante do CAOP1 sito em Teixeira Pinto, mais propriamente o Coronel Paraquedista Rafael Durão, determinou que se realizasse uma acção conjunta a nível das três Companhias operacionais, ou seja, a 3306 de Jolmete, a 3307 do Pelundo, e a 3308 de Có. Foi estabelecido um plano por forma a que os respectivos Grupos de Combate se encontrassem em determinado ponto, mais propriamente onde confinava a zona de actuação definida para cada uma delas, sendo o vértice uma extensa bolanha.
Já
perto do ponto de encontro em questão na região de Catafe e, mais ou menos à
hora combinada, foi tentando por nós (Grupo de Jolmete) o contacto via rádio,
com vista a apurarmos em que posição se encontraria cada um dos Grupos, para
que a aproximação (reconhecimento) se realizasse dentro da máxima segurança.
É
nessa altura que somos alertados pelo Grupo de Có, de que estariam a avistar
movimentação do que suponham ser um bigrupo do inimigo, comandado por “Cubanos”,
pelo que perante tal alerta, parámos de imediato a nossa progressão e tomámos
posição de emboscada, aguardando melhor informação sobre a posição do tal grupo
de guerrilheiros.
Talvez
cerca de um ou dois minutos depois, somos informados da eventualidade de termos
sido detectados, visto que o inimigo estava a emboscar, pelo que a nossa
progressão se deveria fazer com o máximo cuidado, tendo-se inclusive ponderado
se não seria melhor solicitar apoio aéreo para bater a zona, tendo em conta ser
um grupo com muitos elementos e, dada a extensão da bolanha, ser difícil aos
Grupos de Có e Pelundo chegarem rapidamente até nós para fazer um possível envolvimento,
sem serem também detectados.
Porque
a posição assinalada pelos camaradas de Có, era coincidente com aquela em que
nos encontrávamos, questionámos de imediato se algo de errado não se estaria a
passar, e sugerimos que um dos elementos do nosso Grupo se assomasse até à orla
da mata com a tela de sinalização usada para o apoio aéreo, para nos
identificarmos. Escusado será dizer que rapidamente se chegou à conclusão de
que o grupo supostamente do inimigo era afinal o nosso, que seguia na frente
com boa parte dos elementos do Pelotão de Milícias, e afinal os “Cubanos” não eram
mais do que eu e o outro Furriel que estaríamos a tentar orientar o decorrer da
acção.
Importar
salientar que a bolanha em questão era de facto muito larga e extensa, e a
distância entre os nossos Grupos não permitia no imediato uma melhor
identificação do pessoal, além de que parte da confusão foi originada pelo
facto de, tanto eu como o outro Furriel, estarmos na altura a usar não os
nossos tradicionais quicos, mas sim bonés não convencionais. Eu estava com um
boné de xadrez com pompom, que me tinha sido oferecido por um Cabo apontador da
bazuca, o qual lhe havia sido trazido por emigrante amigo em França, e o outro
Furriel com um chapéu improvisado feito de folhas de palmeira, para se proteger
do sol intenso.
Até
então o dito boné (com o qual tenho algumas fotos) funcionou para mim como um
amuleto, mas até ao final da comissão não voltei a usá-lo, não fosse o diabo
tecê-las. Para “Cubano”, bastou um dia. Curiosamente havia de devolvê-lo 30
anos depois ao seu antigo e primeiro proprietário, aquando de um dos encontros
da nossa Companhia, em que este acontecimento acabou por ser recordado com
algum gozo.
Este
é um dos muitos episódios ocorridos em cenários idênticos que, não só por mera
sorte mas também com responsabilidade, acabou por ter um final feliz. Por fim
ainda brincámos com a situação, mas nem quero imaginar as consequências graves que
poderiam ter ocorrido se, por acaso, os outros Grupos ou a aviação (que não
chegou a ser solicitada) tivessem aberto fogo sobre nós.
57-Jolmete - Julho 1972 Bolanha de Gel
58-Jolmete - Julho 1972 Trilhos de Gel
70-Jolmete - Agosto 1972 Estrada Velha de Bula
72-Jolmete - Agosto 1972 Boné do
Cubano
02-08-2012
Augusto
Silva Santos
Publicado
por
Manuel Resende (Ferreira)
Manuel Resende (Ferreira)