Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
Ccaç 2585 – Bcaç 2884)
“ALFERES, TEMOS QUE TRAMAR O
CAPITÃO”
(Esta estória tem como objectivo
fazer uma pequena homenagem ao DANDI)
O nosso Capitão, António Tomás da
Costa, já nos tinha prevenido durante o IAO, no Pragal, que seria promovido a
Major em Agosto de 1969, e que por esse motivo teria de deixar a Companhia. Ele
era do Quadro portanto as promoções tinham data certa. Teríamos de nos
mentalizar que iríamos ter outro comandante durante a nossa comissão.
A Companhia 2585 chegou a Jolmete
a 17-05-69, e após o tempo de sobreposição com a 2366 ficamos entregues a nós
próprios , e fizemos a guerra à nossa maneira, como já foi dito noutra
publicação neste, em “A MINHA GUERRA”, poste Nº 7151 do Blog Luis Graça &
Camaradas da Guiné. Praticamente saíamos para o mato todos os dias e
patrulhávamos sempre os possíveis trilhos por onde o IN poderia vir para atacar
ao quartel, ou trilhos de passagem de grupos, pois a nossa zona era
essencialmente de passagem da Coboiana para Ponta Nhaga.
Normalmente levávamos um grupo de
combate, parte do Pelotão de Caçadores Naturais Nº 59 e alguns elementos do
Pelotão de Milícias Nº 128 comandados pelo Cajan. Periodicamente, ou quando
havia indícios de passagem de colunas do IN as operações eram a nível de dois
grupos de combate, Pelotão de Caçadores Naturais e Pelotão de Milícias quase
sempre comandados pelo Dandi. Não é minha intenção fazer aqui um relato das
operações que fizemos, mas somente salientar a brincadeira que por iniciativa
do Dandi e com a nossa colaboração fizemos ao nosso comandante de companhia que
estava prestes a abandonar Jolmete para ir para o QG em Bissau já como Major.
Estávamos em fins de
Julho/princípios de Agosto de 1969, quando o Dandi veio ter comigo e comentou:
Alferes, então o Capitão nunca saiu para o mato e quando faz o relatório das
operações assina sempre como comandante da operação, e Alferes não diz nada? Um
dia destes temos de o levar a dar uma volta. Aceitei de imediato a sugestão,
mas disse-lhe que tinha de ser uma “volta” sem riscos, pois a nossa
consideração por ele era grande, pelo menos da minha parte.
Falei com o Alf. Marques Pereira,
comandante do 3º grupo de combate e com o Alf. Mosca, comandante do pelotão de
Caçadores Naturais Nº 59, e os três juntamente com o Dandi organizamos uma
operação, à partida sem riscos de contacto com o IN, mas que seria, logo pelo
fresquinho da manhã atravessar uma bolanha com água pela cintura, daríamos uma
volta ao quartel e regressaríamos por outro lado atravessando outra bolanha.
Esta foi a maldade sugerida pelo Dandi. Nada de mal, mas que serviria para ele
ter uma noção do que custava sair para o mato todos os dias.
A primeira parte da operação e a
mais importante seria convencer o nosso Capitão a aceitar ir comandar no
terreno. Já não me lembro dos pormenores, mas foi-lhe dito que era uma operação
de caça, e ele aceitou. Os Furriéis também foram informados da operação a
brincar, mas íamos preparados para o pior, pois eventualmente poderia haver
algum contacto.
O nosso Capitão apresentou-se
cedinho, equipado a rigor de G3 e cartucheiras à cintura, tudo como mandava a
sapatilha. Ele tinha uma caçadeira calibre 12 automática de 5 tiros e pediu a
alguém para a levar, dizia ele que no regresso podia aparecer alguma gazela.
Esta arma era usada pelo Dandi para caçar, e foi-lhe oferecida antes da sua
partida para o QG em Bissau.
Andados alguns Kms por trilhos e
corta mato, já com a roupa seca no corpo após o atravessamento da primeira
bolanha, chegámos a um pequeno descampado com um bom embondeiro a fazer sombra.
Estávamos numa zona em que, pela nossa experiência, não haveria problema, e não
houve. Eu, para esta operação e pela primeira vez, até levei a minha máquina
fotográfica, e seguia relativamente perto do Capitão.
O Dandi em vez de ir na frente,
como costumava, ia como guarda-costas dele. À ordem de parar para descansar
todo o pessoal emboscou. Diz-me ele: ó Ferreira, (eu na tropa era Ferreira)
tire uma fotografia para recordar esta operação. Chamou os Alferes e alguns
Furriéis que estavam mais próximos para ficarem na foto. Estava eu a fazer o
enquadramento e diz-me ele: alto, não tire ainda para eu compor as
cartucheiras, quero ficar com um ar de guerreiro.
Acabado o descanso continuamos o
nosso percurso, e eis senão quando aparece outra bolanha. Mais uma vez água
pela cintura. Diz o Capitão: ó Dandi, então não havia outro caminho para evitar
a bolanha? É que isto de secar a roupa no corpo é muito desconfortável… Não me
lembro quantas fotografias eu tirei nesta operação, mas a única que tenho é a
Nº 1, já anteriormente publicada, mas agora com legenda. Este pequeno episódio
foi verídico no seu essencial, embora 43 anos depois a memória já não ajuda nos
pequenos pormenores.
Foto Nº
1 – Operação de patrulhamento comandada pelo Sr. Cap. Tomás da Costa
1-Cap.
Tomás da Costa, 2-Dandi, 3-Alf. Joaquim Mosca, 4-Alf. Marques Pereira, 5-Fur.
Meireles, 6-Fur. Guarda
1- Cap.
Tomás da Costa, 2-Alf. Joaquim Mosca, 3-Alf. Ferreira (eu), 4- Fur. Meireles,
5-Fur. Furtado (enfermeiro)
Foto Nº
3 – Um cafezinho depois do almoço
1-Cap.
Tomás da Costa, 2-Alf. Godinho, 3-Alf. Marques Pereira
Foto Nº
4 – Cap. Tomás da Costa com a esposa e as duas filhas numa visita a Jolmete
A seguir vou apresentar todas as
fotografias que tenho tiradas com o Dandi. No meu tempo ele tinha sete esposas
e sempre com ânsia de arranjar mais, pois quantas mais tivesse maior era o seu
estatuto social, dizia ele. Teria cerca de 25/30anos de idade e era Natural do
Jol, portanto, em princípio seria Manjaco. Os proventos dele resumiam-se à caça
que fazia e vendia à Companhia e às saídas para o mato, pois ele recebia por
cada operação que fazia. Era uma pessoa leal, não me lembro de qualquer
desavença que possa ter havido. O seu nome era ”DASSIM DJASSI”. Numa das
visitas que o Sr. General Spínola fez a Jolmete, prometeu que o iria propor
para uma Cruz de Guerra, mas segundo as minhas últimas informações ele talvez
nunca a teria recebido. Teve sim umas férias em Lisboa, mas sinceramente não
sei de pormenores.
Não me admiro nada que, devido às
burocracias militares, não tenha sido
possível atribuí-la, pois nem sempre o QG fazia o que o Sr. General queria.
Veja-se o caso das graduações de Alferes em Capitão, que deram que falar
naquela altura. Na minha Companhia o Alferes Almendra, graduado em Capitão e
comandante da mesma durante cerca de 18 meses, hoje Coronel reformado, depois
da saída do Sr. Major Tomaz da Costa, na altura do regresso à Metrópole, ainda
recebia o vencimento de Alferes e sem aumento. Lembro que em Outubro de 1969
houve aumentos de vencimentos. Coisas de Marcelo Caetano.
Claro que depois tudo terá sido
regularizado, mas não era como o Sr. General queria. Lembro que no jantar de
despedida no palácio do Governo, o Sr. General Spínola falou no assunto e disse
ao Cap. Almendra que iria receber até ao último centavo, nem que para isso
tivesse de pagar do seu bolso.
Foto Nº
6 – eu com o Dandi e uma das esposas
Foto Nº
7 – eu com o Dandi em pose para a foto
Manuel Resende
(Ferreira)
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