Augusto Silva Santos
Fur. Mil. da CCAÇ 3306 em Jolmete
(Pelundo – Teixeira Pinto)
6 - Cabo “Bigodes” O Homem Macaco
Esta passou-se numa daquelas noites
em que, pela movimentação (ou não) da população, era esperada uma quase certa
flagelação ao quartel. De tão cedo que era, quase não se via viva alma a
circular pela tabanca, muito menos crianças, o que no mínimo era muito
estranho. Assim, o indício era de uma quase certeza de que mais tarde ou mais
cedo íamos mesmo “embrulhar”.
Recordo-me de que nessa noite de Abril
de 1972 o Benfica jogava as meias-finais com o Ajax no antigo Estádio da Luz,
para a então Taça dos Campeões Europeus, sendo o resultado final de zero a
zero.
Calhou em sorte ser o meu grupo de
combate a sair para fazer a segurança e denunciar possíveis movimentações do
inimigo e, quando já estávamos todos convencidos de que nada se iria passar, lá
rebentou o inevitável “fogachal”, precisamente do lado oposto a onde nos
encontrávamos para, de certa forma, a fuga dos elementos do PAIGC se processar
com menos hipóteses de confrontação.
Era a táctica deles do bate e foge.
Só que contámos com a rápida resposta do pessoal que ficou no interior do
quartel juntamente com o apoio da artilharia de Bula para bater a zona, pelo
que o ataque se reduziu (felizmente para nós) a poucos minutos e sem
consequências de maior.
Mas esta introdução tem como
objectivo contar o que de rocambolesco e caricato se passou nos primeiros
momentos do ataque ao quartel, que se processou precisamente do lado da chamada
porta de armas, onde estava de serviço / sentinela no posto mais elevado e com
alguns bons metros acima do solo, o meu amigo Cabo Borges, mais conhecido por
todos pelo Cabo “Bigodes”, que levou de muito perto com uma valente roquetada,
a qual de imediato pôs o posto em chamas. Sem hipótese de ripostar fogo com a
Breda que encravou, só teve como solução atirar-se do posto abaixo.
Chegado cá abaixo, como o ataque
continuasse e sem arma de defesa, logo se lembrou que a sua G3 havia ficado lá
em cima no posto, ao qual voltou a subir tão rápido quanto possível e, já de
novo na posse da sua “amiga”, qual símio, voltou novamente a atirar-se para o
solo daquela considerável altura.
Quem a tudo isto conseguiu assistir,
dizia que o Borges parecia o autêntico homem macaco. Reposta a calma, o nosso
amigo “Bigodes” nem queria acreditar no que tinha conseguido fazer, ainda por
cima sem ter sofrido qualquer ferimento.
46-Jolmete
- Junho 1972 Regresso da segurança à água
47-Jolmete
- Junho 1972 Chegada de mais uma operação
53-Pelundo
- Julho 1972 C.CAÇ. 3307
54-Pelundo
- Julho 1972 Com o meu irmão e amigos
02-08-2012
Augusto Silva Santos
Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)