Augusto
Silva Santos
Fur.
Mil. da CCAÇ. 3306 em Jolmete - (Pelundo - Teixeira Pinto)
10
- O Tarzan do Jol
Foi
já no final do ano de 1971 que cheguei a Bissau. Quase por milagre (como se
costuma dizer) ainda consegui passar o Natal em Lisboa, pois nessa altura
deixaram de haver voos, mas eis-me a embarcar a 28 de Dezembro no Aeroporto de
Figo Maduro em rendição individual para a então província da Guiné, se não me
falha a memória num velhinho quadrimotor DC-6. Não foi uma viagem fácil, pois
demorou muitas horas, com uma inevitável escala na Ilha do Sal em Cabo Verde,
dado que a determinada altura (sensivelmente a meio da viagem), um dos motores
começou a falhar (víamos da janela a hélice parada), mas muito provavelmente
também por uma questão de reabastecimento de combustível.
Tive
a sorte de ter amigos à minha espera em Bissau, que logo me encaminharam para
ficar alojado em Brá, mais propriamente no Combis, onde fiquei a aguardar
transporte para Piche, visto ter guia de marcha com destino à CCav.2749, para
render o infeliz Furriel Mil. Armindo André, cuja morte trágica já foi motivo
de relato neste blogue por outros camaradas. Tal não viria no entanto a
acontecer, pois por influência do meu irmão que se encontrava no Pelundo na CCaç.3307,
junto do Comandante do BCaç.3833, acabei por ser “desviado” para a CCaç.3306
sita em Jolmete.
Recordo
que os meus primeiros dias de Guiné como militar (já havia estado várias vezes em
Bissau como civil), foram demasiado horríveis para mim, mesmo considerando a
óptima recepção por parte dos outros camaradas, pois apesar da medicação que
nos era ministrada para evitar o paludismo, apanhei uma “carga” tal que,
passados todos estes anos, ainda sinto arrepios só de me lembrar o que então
passei. Quase não me aguentava de pé e, o que na altura que me “safou”,
obviamente para além da medicação anti-palúdica que me foi ministrada, foi a
muita água gaseificada Pérrie e água tónica Shweppes que, além do gás, também
tinha hidrocloreto de quinino.
Toda
esta introdução para explicar que, infelizmente, esta situação relacionada com
a malária foi algo que me atormentou ainda durante alguns anos, com maior
incidência durante o período em que permaneci na Guiné, nomeadamente no mato.
Aqui em Portugal foram muitas as injecções de Ricolon + Conmel que levei, para
minimizar os chamados acessos palustres que me assaltavam aquando duma gripe
mais forte.
Foi
o que me aconteceu algumas vezes enquanto estive na CCaç.3306, embora sempre
controlado e sem grandes problemas, mas lembro-me que numa ocasião, já algo
debilitado, mas com esperança de melhorar e para não sobrecarregar nenhum
colega, resolvi mesmo assim alinhar em mais uma das habituais operações, mas em
má hora o fiz, pois dessa feita as coisas não correram da melhor forma e,
apesar dos cuidados do enfermeiro que nos acompanhava, estive prestes a ter de
ser evacuado em pleno mato. A febre alta, o frio, e as dores musculares já eram
tantas, que estava quase a entrar num estado de prostração.
Foi
então que algo de inesperado se passou, ou seja, um dos Soldados do Pelotão de
Caçadores Nativos chegou-se junto a mim e, quase em sussurro, disse-me qualquer
coisa mais ou menos nestes termos: - O Furriel quer ser mesmo evacuado, ou quer
ter forças para chegar ao quartel? Por já não estarmos muito longe, obviamente
respondi que preferia ir para o quartel. Deu-me então algo para mascar,
garantindo ele que iria resultar.
Que
“coisa” era não sei e também não me quis posteriormente dizer, mas o certo é
que passado algum tempo, muito provavelmente associada também às injecções que
entretanto me foram ministradas, me deu uma tal “pica” que cheguei ao quartel numa
situação fora do normal. De repente quase me senti o Tarzan do Jol (na altura
ainda não havia o Rambo).
Não
sei ao certo que “produto” foi aquele que me foi arranjar forças onde parecia
já não as ter. Conseguir, consegui, só que depois fiquei quase uma semana de
cama para conseguir recuperar. “Aquilo” deu-me realmente forças, mas rebentou
comigo. Só mais tarde me foi explicado que o mais certo foi esse Soldado Nativo
me ter dado noz de cola com algo mais misturado. Agora percebo por que é que
quase todo o pessoal nativo andava sempre a mascar aquela semente, e porque é
que nos dias de hoje ainda se encontra a vender em Lisboa, em pleno Rossio e
Martim Moniz.
Curiosidade:
A noz de cola é um forte estimulante. Como o café, a noz de cola estimula e
mantém-te acordado. O efeito psicoactivo é no entanto diferente. Aumenta o
poder de resistência e diminui o apetite. Melhora a concentração, aclara o
cérebro, tem um efeito ligeiramente afrodisíaco e pode dar "pedra".
Impulsiona as tuas capacidades normais como por exemplo o trabalho, desporto,
dança e sexo. Devido à descarga de energia que provoca no corpo de várias
maneiras, também é usada como elemento dietético.
A
Cola tem um efeito marcadamente estimulante na consciência humana. A curto
prazo, pode ser usada na debilidade nervosa e nos estados de fraqueza. Para
além disso, pode actuar especificamente na diarreia nervosa. Também ajuda em
estados de depressão e pode, em algumas pessoas, causar estados eufóricos.
Devido ao seu conteúdo de cafeína, a noz de cola pode aliviar algumas
enxaquecas. Os compostos fenólicos e as antocianinas podem ter uma actividade
antioxidante.
Os
usos históricos da noz de cola incluem o aumento da capacidade de esforço
físico e a resistência à fadiga sem comer; o estímulo do coração fraco; e o
tratamento de debilidade nervosa, fraqueza, apatia, diarreia nervosa,
depressão, desânimo, ressentimento, ansiedade, e enjoos marítimos. Nome
científico : Cola nitida; Família: Sterculiaceae (Enciclopédia – Azarius).
Bissau Dezembro 1971 Com o meu irmão e dois amigos
Bissau Dezembro 1971 Com o meu irmão
Brá Dezembro 1971 Visita aos arredores
Brá Janeiro 1972 Ostras para o petisco
13-08-2012
Augusto
Silva Santos
Publicado
por
Manuel Resende (Ferreira)
Manuel Resende (Ferreira)