José
Rodrigues Firmino
Ex. Sold. Atir. em Jolmete (Pelundo - Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 - BCAÇ 2884
CCAÇ 2585 - BCAÇ 2884
Uma história de vida
Sou José Rodrigues Firmino, presentemente
com 65 anos de idade, e aproveito para trazer aqui um pouco da minha passagem
pela Guiné Bissau, antiga colónia Portuguesa, enquanto militar.
Decorria a década de sessenta, mais
concretamente o dia 7 do mês de maio de 1969, quando no cais marítimo de
Alcântara em Lisboa, eu e tantos outros jovens rumamos para a Guiné Bissau, com
o objetivo de cumprir o serviço militar obrigatório, numa das ex-províncias
Ultramarinas, que com muita mágoa minha, alguns teimam em esquecer ou ignorar.
Na hora marcada, lá estava atracado o cargueiro Niassa, pronto para levar, jovens tirados precocemente aos seus pais, namoradas e até mulheres, rumo aquele País para nós desconhecido, para uma guerra que nunca desejamos e desconhecíamos.
A viagem foi muito dolorosa e atribulada, para começar a alimentação era péssima, as camas ali chamadas de “tarim bulas” eram feitas em madeira, algumas casas de banho eram barracos cobertos com chapas de zinco.
Na hora marcada, lá estava atracado o cargueiro Niassa, pronto para levar, jovens tirados precocemente aos seus pais, namoradas e até mulheres, rumo aquele País para nós desconhecido, para uma guerra que nunca desejamos e desconhecíamos.
A viagem foi muito dolorosa e atribulada, para começar a alimentação era péssima, as camas ali chamadas de “tarim bulas” eram feitas em madeira, algumas casas de banho eram barracos cobertos com chapas de zinco.
Cargueiro Niassa
Chegados à Guiné
Bissau lá estavam à nossa espera viaturas militares para nos conduzirem até
Teixeira Pinto. Dormimos três noites numa escola, em que os nossos colchões
eram simplesmente o chão da própria escola. Após três noites de estadia em
Teixeira Pinto outra etapa nos aguardava, durante a noite e mais uma vez
viaturas militares levaram-nos até uma lancha onde embarcamos rio acima, para
sermos conduzidos para a zona de Jolmete, uma das zonas mais isoladas da Guiné.
Lembro-me que durante a viagem feita de noite, ouvíamos
alguns disparos distantes que nos faziam pensar, para onde estavamos a ir e
principalmente o que nos aguardava. Por fim chegado a Jolmete (onde estive toda
a comissão de serviço), fomos
distribuídos por diversos pelotões, começando ai o nosso tormento.
Todos os dias pensava se conseguiria chegar ao dia
seguinte, felizmente cheguei outros não
tiveram a mesma sorte infelizmente.
Aquartelamento em Jolmete
Mesmo com a nossa juventude, sabendo que
tínhamos de lutar, para não morrer, sinto orgulho de ter podido continuar com
nosso trabalho, ajudar na melhoria das condições de vida daquelas populações.
Construimos 22 tabancas (habitações), não direi excelentes, mas muito melhores do que as existentes, uma escola, uma cozinha comunitária e uma pequena capela, onde por vezes passávamos pedindo a Nossa Senhora de Fátima nos protegesse para podermos regressar para junto dos nossos familiares.
Construimos 22 tabancas (habitações), não direi excelentes, mas muito melhores do que as existentes, uma escola, uma cozinha comunitária e uma pequena capela, onde por vezes passávamos pedindo a Nossa Senhora de Fátima nos protegesse para podermos regressar para junto dos nossos familiares.
Lutando e construindo
Para
além do trauma de guerra, revolta-me o esquecimento por vezes até o abandono a
que todos os ex-combatentes estão sujeitos por parte de grande parte da sociedade
e muitos governantes em geral.
Desconhecem que muitos perderam a vida, outros regressaram com deficiências, muitos nunca conseguiram ultrapassar o trauma da guerra. Há relatos que alguns ex. Combatentes, para além de estarem na miséria, passam fome.
Adoro o meu País defendi a nossa bandeira, ignorados jamais esquecidos. Tenho pelo povo Guineense a maior consideração e estima estais para sempre no meu coração. Ainda hoje pelo que acabei de trancrever modestamente vamos ajudando o povo Guineense e suas populações com o envio de sementes outros bens, abertura de poços com água potável.
Desconhecem que muitos perderam a vida, outros regressaram com deficiências, muitos nunca conseguiram ultrapassar o trauma da guerra. Há relatos que alguns ex. Combatentes, para além de estarem na miséria, passam fome.
Adoro o meu País defendi a nossa bandeira, ignorados jamais esquecidos. Tenho pelo povo Guineense a maior consideração e estima estais para sempre no meu coração. Ainda hoje pelo que acabei de trancrever modestamente vamos ajudando o povo Guineense e suas populações com o envio de sementes outros bens, abertura de poços com água potável.
Assim termina o testemunho de alguém que,
mesmo contrariado, sente orgulho em ter servido o seu pais, defendendo a sua
bandeira.
Fim
José Rodrigues Firmino
Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)
Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)