28 de março de 2013

Post Nº 8 - Uma história de vida

José Rodrigues Firmino
Ex. Sold. Atir. em Jolmete (Pelundo - Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 - BCAÇ 2884














Uma história de vida

Sou José Rodrigues Firmino, presentemente com 65 anos de idade, e aproveito para trazer aqui um pouco da minha passagem pela Guiné Bissau, antiga colónia Portuguesa, enquanto militar.

Decorria a década de sessenta, mais concretamente o dia 7 do mês de maio de 1969, quando no cais marítimo de Alcântara em Lisboa, eu e tantos outros jovens rumamos para a Guiné Bissau, com o objetivo de cumprir o serviço militar obrigatório, numa das ex-províncias Ultramarinas, que com muita mágoa minha, alguns teimam em esquecer ou ignorar.

Na hora marcada, lá estava atracado o cargueiro Niassa, pronto para levar, jovens tirados precocemente aos seus pais, namoradas e até mulheres, rumo aquele País para nós desconhecido, para uma guerra que nunca desejamos e desconhecíamos.


A viagem foi muito dolorosa e atribulada, para começar a alimentação era péssima, as camas ali chamadas de “tarim bulas” eram feitas em madeira, algumas casas de banho eram barracos cobertos com chapas de zinco.


 Cargueiro  Niassa


Chegados à Guiné Bissau lá estavam à nossa espera viaturas militares para nos conduzirem até Teixeira Pinto. Dormimos três noites numa escola, em que os nossos colchões eram simplesmente o chão da própria escola. Após três noites de estadia em Teixeira Pinto outra etapa nos aguardava, durante a noite e mais uma vez viaturas militares levaram-nos até uma lancha onde embarcamos rio acima, para sermos conduzidos para a zona de Jolmete, uma das zonas mais isoladas da Guiné.

Lembro-me que durante a viagem feita de noite, ouvíamos alguns disparos distantes que nos faziam pensar, para onde estavamos a ir e principalmente o que nos aguardava. Por fim chegado a Jolmete (onde estive toda a comissão de serviço), fomos  distribuídos por diversos pelotões, começando ai o nosso tormento.

Todos os dias pensava se conseguiria chegar ao dia seguinte, felizmente cheguei  outros não tiveram a mesma sorte infelizmente.


 Aquartelamento em Jolmete

Mesmo com a nossa juventude, sabendo que tínhamos de lutar, para não morrer, sinto orgulho de ter podido continuar com nosso trabalho, ajudar na melhoria das condições de vida daquelas populações.

Construimos 22 tabancas (habitações), não direi excelentes, mas muito melhores do que as existentes, uma escola, uma cozinha comunitária e uma pequena capela, onde por vezes passávamos pedindo a  Nossa Senhora de Fátima nos protegesse para podermos regressar para junto dos nossos familiares.


 Lutando e construindo

Para além do trauma de guerra, revolta-me o esquecimento por vezes até o abandono a que todos os ex-combatentes estão sujeitos por parte de grande parte da sociedade e muitos governantes em geral.

Desconhecem que muitos perderam a vida, outros regressaram com deficiências, muitos nunca conseguiram ultrapassar o trauma da guerra. Há relatos que alguns ex. Combatentes, para além de estarem na miséria, passam fome.


Adoro o meu País defendi a nossa bandeira, ignorados jamais esquecidos. Tenho pelo povo Guineense a maior consideração e estima estais para sempre no meu coração. Ainda hoje pelo que acabei de trancrever modestamente vamos ajudando o povo Guineense e suas populações com o envio de sementes outros bens, abertura de poços com água potável.

Assim termina o testemunho de alguém que, mesmo contrariado, sente orgulho em ter servido o seu pais, defendendo a sua bandeira.


Fim
José Rodrigues Firmino


Publicado por

Manuel Resende (Ferreira)



2 comentários:

Albino Silva disse...

Gostaria que confirmassem o seguinte: Diz-se aqui que após 3 dias em Teixeira Pinto, seguiram rio acima até Jolmete.
Bom o que eu sei é que a C.Caç.2585foi de Bissau para Teixeira Pinto numa LDG, e depois de passados 3 Dias em Teixeira Pinto seguiram em Escolta para Jolmete para renderem a C. Caç. 2366, do Bat. Caç. 2845...

Manuel Ferreira disse...

Caro Albino Silva,
eu também acho que foi como dizes, mas o opinião do Firmino é a que está no texto, de sua autoria.
Por vezes os anos apagam ou confundem a nossa memória.

Um abraço
Manuel Resende