Augusto
Silva Santos
Fur.
Mil. da CCAÇ 3306 em Jolmete (Pelundo - Teixeira Pinto)
16 - Um telefonema complicado com final feliz…
Durante
a minha passagem pelo B.CAÇ.3833 / C.CAÇ.3306, mais propriamente por Jolmete e,
após termos tido um forte contacto com o IN na “famosa” zona de Badã em
04-03-1972, muito perto da não menos “famosa” zona de Ponta Matar, contacto
esse do qual infelizmente resultou em 10 feridos para as nossas tropas (alguns
dos quais com bastante gravidade), tendo eu escapado ileso por “milagre”, senti
nos dias posteriores uma forte necessidade de contactar / falar com os meus
ente-queridos.
Importa
salientar que os deuses nesse dia estiveram de facto comigo… Só me lembro de
ter sido projectado pela acção do sopro de um rebentamento de RPG, de ter
batido numa palmeira, e ter caído em cima de um Soldado, sem ter sido atingido
por qualquer estilhaço, portanto sem qualquer ferimento, sorte que infelizmente
não tiveram os camaradas feridos que estavam perto de mim.
Dado
que tal contacto telefónico não seria possível de realizar, nem em Jolmete nem
no Pelundo, restava a alternativa de tentar fazer o mesmo em Teixeira Pinto, o
que não era de todo fácil de concretizar.
Assim,
cerca de um mês depois, aproveitando uma coluna para o Pelundo, ofereci-me para
essa deslocação, primeiro para dar um forte abraço ao meu irmão que estava
naquela localidade na C.CAÇ.3307 e, depois, para ver então a hipótese de me
deslocar a Teixeira Pinto nesse dia para concretizar o meu segundo objectivo.
Azar…
Nesse dia, no distante mês de Abril de 1972, já não estava programada mais
nenhuma deslocação do Pelundo para T. Pinto. Perante o meu desespero / desânimo
e, sem que eu estivesse à espera, aparece o meu irmão com um jeep (ele era
Furriel Mec. Auto da sua Comp.ª), meteu-me nele e, apenas com uma G3, lá fomos os
dois direitos a Teixeira Pinto / Estação dos Correios.
Após
algum tempo de espera dado o improviso (não estava programada qualquer
chamada), lá consegui que me fizessem um pouco à sorte a ligação, mas
finalmente consegui falar com os meus pais, algo que obviamente fiz com muita
dificuldade dado o embargo da voz. Acabámos depois por ir comer umas rolas na
“tasca” do Jaime, situação mais ou menos habitual naquelas paragens.
Costuma-se
se dizer, “tudo bem quando acaba em bem”, pois tanto na ida como no regresso
não tivemos qualquer mau encontro, mas foi uma aventura mais ou menos perigosa,
pois o normal era que estas deslocações se realizassem com uma escolta.
E
tudo isto por causa da necessidade de um telefonema…
Como
explicar isto à geração actual, cujas facilidades de comunicação hoje em dia,
são o que são? Aproveito para juntar duas fotos que testemunham tal
acontecimento, a primeira tirada no varandim da dita estação dos CTT e, a
segunda na estrada em frente, ambas com data de Abril 1972, bem como três fotos
que tirámos no acampamento do PAIGC em Badã, momentos antes do fatídico
acontecimento, datadas de Março 1972.
Jolmete Março 1972 Acampam. PAIGC em Badã
Teixeira Pinto Abril 1972
Jolmete Março 1972 Acampam. PAIGC em Badã
Teixeira Pinto Abril 1972
Jolmete Março 1972 Acampam. PAIGC em Badã
Augusto
Silva Santos
Publicado
por
Manuel
Resende (Ferreira)