Augusto
Silva Santos
Fur.
Mil. da CCAÇ. 3306 de Jolmete (Pelundo - Teixeira Pinto)
12
- A minha primeira noite no Jol
Foi
em meados de Janeiro de 1971 que cheguei à sede do BCAÇ.3833 no Pelundo, com
uma breve passagem por Có, sendo o meu destino final a CCAÇ.3306 em Jolmete.
Estando o meu irmão colocado na CCAÇ.3307 no Pelundo, não foi difícil encontrar
uma óptima recepção por parte de todo o pessoal, sentindo-me nesse aspecto praticamente
em “casa”, como se costuma dizer.
Tirando
esta parte boa, não foi porém fácil o primeiro dia, pois nunca consegui
perceber até hoje o por quê de alguém chegar de “fresco” a uma unidade, e porem-no
de imediato de serviço à mesma, sem estar minimamente identificado com ela e
muito menos preparado para os possíveis perigos a enfrentar. Naquela altura eu
era um “pira” sem qualquer preparação, pois tinha ali chegado em rendição
individual, e à noite já estava escalado para fazer serviço. Numa situação de
ataque, desconhecia por completo os meios de defesa e mecanismos a accionar e
os seus posicionamentos. Eram assim que as coisas estupidamente funcionavam (o
tal facilitismo), não sendo de admirar que, por vezes, se dessem acidentes, que
depois se lamentavam. Era o velho esquema a funcionar do “periquito” chegou,
amochou.
A
minha chegada a Jolmete não foi infelizmente muito diferente do atrás referido,
pois mal ali cheguei puseram-me também logo a alinhar, embora me tivessem dado
pelo menos um dia (uma noite) de folga, e foi a propósito da estória do nosso
camarada Juvenal Amado sobre o seu amigo Silva e do seu “periquito” (P10305 do
Blog "LuisGraçaeCamaradasdaGuine"), que me lembrei dessa minha
primeira noite de chegada ao quartel de Jol.
Lembro-me
perfeitamente que, mal cheguei á unidade, toda a gente parecia que já me conhecia
há muito tempo, e todos já sabiam (inclusive alguns elementos nativos, o que me
surpreendeu bastante), que eu era irmão do “Chefe”, como era conhecido o meu
irmão Arménio Silva Santos, Furriel Mec. Auto colocado no Pelundo, conforme
referi anteriormente.
Só
me interrogava como é que, com a diferença de apenas um dia e uma distância de
cerca de 18 kms., toda aquela gente já sabia quem eu era. No que respeita ao
pessoal militar, não era de admirar mas, em relação ao pessoal da tabanca, era
de ficar preocupado (pensava eu na altura).
Mas
felizmente era apenas e só a minha preocupação de “pira” a funcionar, pois nada
de anormal se passou, só que, ao contrário do que aconteceu com o “pira” do
Juvenal, no meu caso era ver quem mais “álcool” me conseguia fazer beber e,
obviamente, pagar.
Tanto
quanto foi possível lá me fui aguentando, normalmente tentando disfarçar as
grandes quantidades de whisky com coca-cola à mistura. Como sabia e
“escorregava” bem, consegui manter-me durante um bom par de horas a ouvir alguns
dos acontecimentos mais significativos dos últimos 12 meses (a eterna tentativa
de “acagaçar” os recém chegados), e sinceramente não dei conta que já me encontrava
muito perto dos limites.
Enquanto
estive sentado, a coisa correu bem, o pior foi mesmo quando fiz mais do que uma
tentativa para me levantar, e as pernas não me obedeciam. A minha intenção de
evitar apanhar uma primeira bebedeira em terras da Guiné, definitivamente não
tinha resultado. Estava mesmo embriagado e, só com alguma ajuda, lá me consegui
pôr a caminho do meu abrigo. Pelo meio fui “apanhado” pelo Cabo da ronda que,
“simpaticamente” me perguntou se precisava de ajuda, depois de me ver de
joelhos e a vomitar.
Bonito
exemplo logo no primeiro dia, pensei eu…
Mas
a “praxe” tinha sido cumprida e, no outro dia, era como se nada se tivesse
passado. Nunca mais ninguém falou nisso, eu é que durante largos meses, nunca
mais pude ver à minha frente aquela “maldita combinação” de whisky com
coca-cola. Foi mesmo de arrasar…
23 - Teixeira Pinto - Abril 1972 Estação dos Correios
Augusto
Silva Santos
20-09-2012
Publicado
por
Manuel
Resende (Ferreira)