11 de dezembro de 2015

Post Nº 48 - Textos de Veríssimo (3)

Veríssimo Luz Ferreira
Fur. Mil. da CCAÇ 1422 - Pelundo















EU SOU DO TEMPO EM QUE:

(Continuação)
130 - aos sete de idade, fui prá escola, (donde saí após a formatura com a 4ª classe) primeiro ali junto à igreja e com a Senhora Professora D. Maria Alcina e depois fui inaugurar a de lá em cima, nas Avenidas Novas;
131 - o meu professor foi então o Sr. Garibaldino d'Andrade;
132 - foi a época da descoberta e dos bichos da seda;
133 - comprados pequeninos, depressa cresciam alimentando-os com folhas das amoreiras que ali existiam numa propriedade atrás da "balança". O caseiro fingia que não nos via e deixava que colhêssemos as preciosas folhas;
134 - e ainda sobre o prof. Garibaldino:
135 - Ouvia mal...dava reguadas, mas era um bom homem. Tanto gostava de mim, que bastas vezes me dava como exemplo a seguir, mesmo qu' até eu não acertasse;
136 - na época da "apanha" da azeitona, ia com o meu pai ao "rabisco" e sempre tínhamos um ou dois litros d'azeite, para temperar o feijão com couve;
137 - fruta também não faltava... bastava colhê-la, que a ninguém parecia mal, a invasão das suas hortas;
138 - perninhas havia por demais, bastava ir apanhá-las (às rãs) ali atrás dos bombeiros;
139 - a vida era simples... descomplicada.
140 - ia à escola descalço e no Inverno, todo contente ao deslizar pelas geadas caídas durante a noite;
141 - lamentava os que iam calçados e não brincavam para não se sujarem;
142 - jogávamos nos intervalos, ao berlinde... à pata, ao hóquei e à porrada;
143 - fui obrigado a ir à catequese e em resultado das presenças assim a igreja partilhava pelo Natal, 100 gramas daquela coisa bem saborosa (manteiga) enviada para ser dada, mesmo dada, aos mais desprotegidos;
144 - a casa Vaz, oferecia todos os sábados, um quarto de pão de milho e aquilo era mesmo lindo: dezenas de miúdos, comigo incluído, à espera na escada de acesso ao 1º andar;
145 - ia pr’á bicha, ao anoitecer do dia antes em que a Intendência anunciava que iria distribuir senhas de racionamento e portanto teríamos talvez, direito a comprar um quilo de açúcar...arroz ou massa;
146 - e ali ficava até à meia-noite a marcar vez e depois, cada um dos meus familiares, para que às nove da manhã, nos pudesse calhar tal senha de acesso aos produtos mencionados;
147 - época de fome? eu não disse tal;
148 - sou do tempo sim, em que uma sardinha dava para três;
149 - e até me lambia gulosamente quando via alguém a comer pão com chouriço;
150 - (assim me criei... aprendi... enrijei e dum metro d'altura cheguei aos um metro e setenta e um d'hoje 2015).
151 - com pais como tive, foi fácil;
152 - o meu "VELHO" Belas e a minha mãe Sabina, estão aqui bem junto ao coração;
153 - tantos sacrifícios fizeram, tanto sofreram;
154 - ELE, servente de pedreiro...ELA, mulher a dias;
155 - NUNCA OS ESQUECEREI;
156 - e quanto mais estudava, mais ia percebendo que a infelicidade pode estar também ligada ao mais saber;
157 - soube então o que eram a inveja... o ódio... a traição... a cobiça e compreendi o que era a fome;
158 - aos dez fiz a 4ª classe e até a admissão ao Liceu e fui ao dentista;
159 - comecei a usar a pasta medicinal Couto;

160 - se vendia leite de porta em porta e por medidas;
161 - 125 dcl, era o que se podia comprar embora a leiteira deixasse sempre de cagulo;
162 - havia piscos... papó-figos... verdilhões, melros e estorninhos, que também caíam (embora levando-as até 10 metros mas com elas - as costelas - agarradas ao pescoço, por aí ficavam) e que bem saborosos eram fritos após depenados;
163 - isto no Vale do Bispo-Fundeiro, porque na Pedreira, não faltavam barbos e bordalos bem como no Poceirão onde na época própria até bogas (que tinham de ser apanhadas com um anzol pequeno) ou salmão e lampreia (mas antes de terem feito a barragem de Montargil);
164 - escamados e salgados ainda vivinhos, prodigalizavam boas fritadas se pequenos, mas se grelhados, eu gostava mais;
165 - ali nos "blocos" (atrás do cinema) apanhava enguias com um garfo e foi aí também, que aprendi a nadar à força, com a ajuda dos mais velhos, que nos atiravam à bruta, para dentro do rio;
166 - mais acima e à entrada da Barroqueira, estava o moínho do Sr. Manuel Reis, onde com 20 centavos, comprava a farinha de milho para fazer o isco;
167 - a taberna do Sr. Zé Toucinho era mesmo logo ali a 100 metros e algumas vezes lá "matei o bicho";
168 - fui trabalhar para a moagem e os vinte escudos ajudaram a alugar casa no "Puto Gatuno" na rua do volta atrás, com a renda mensal de dez mil réis;
169 - pobre não tinha direito a estudar, (disseram as autoridades:"de graça nem pensar" mas que me era permitido sim, ir para padre, ao que o meu pai respondeu: "Vão pró Vatícano" (com acento no i);
170 - a "ti" Vicência, dona da taberna e mercearia onde eu ia mandado, buscar fiado pagando-se-lhe ao sábado, apontava dez tostões fazendo um "X", cinco uma argola ou seja "0" e um tostão um risco " / ";
171 - ao Domingo podia ficar a dormir até que a minha Velhota chegasse da praça, onde ia comprar qualquer pequena quantidade de peixe pouco fresco do mar, ao mesmo tempo que me brindava com cinco tostões de "burenhol" e me fazia umas papas de farinha de fava, ou um cafezinho de cevada na "chocolatera" tudo servido na cama de tábuas dos caixotes de sardinha e colchão de "camisas" das maçarocas do milho;
173 - as tardes eram passadas a ler o "Século" e ouvir os relatos do futebol ali perto no quartel dos Bombeiros;
174 - cheguei aos catorze anos;
175 - alto lá! tudo se modificou;
176 - fui prá Banda aprender música e seis meses depois lá fiquei com o instrumento dos meus sonhos e até cheguei a 2º trompete a actuar ora aqui ora ali;
177 - frequentei semanalmente ao sábado à noite e doutorei-me, na D. Nazaré (na Frialva) mesmo ao lado da tasca do Sr. David que era o baterista do Conjunto "Os Invencíveis";
178 - aos Domingos de tarde ali estava nos locais onde haviam petiscos, que um ou outro dos meus amigos (trabalhadores como eu) levava, ou que a própria casa preparava;
179 - ganhava já, 250 escudos e podia ter estas excentricidades, até bem saborosas, "por adrego". Tornei-me "maniento" enfim e a usar "marrafa" pois então;
180 - apareceu a televisão;

181 - comecei a estudar o 1º ciclo dos Liceus, como "trabalhador estudante" e com a preciosa ajuda e incentivo de GENTES muito boas: FAMÍLIA ARTEIRO;
182 - e assim se passaram uns belos anos: no trabalho, passei para o escritório; aos dezoito entrei na Função Pública; nos exames liceais... fui passando; namoricos não faltaram; bailes e comezainas qb;
183 - fiz novos amigos, estudantes no colégio, que também me iam ajudando nas dúvidas dos livros de estudo;
184 - "nasceu" O Conde da Pedreira ali na loja do Sr. Artur Lino, ao lado do Café Avenida e onde mais tarde surgiu a 1ª "Casa das Iscas" do meu Amigo João Martins;
185 - aprendi que dizer "NÃO" é difícil, mas eficaz;
186 - e em 1962, fui "às sortes" e apurado para todo o serviço militar;
187 - casei nesse mesmo ano;
188 - a filha nasceu e logo a seguir fui "prá tropa";
189 - e assim começaram: “Os Melhores 40 Meses da Minha Vida”.
(Fim de: “Eu Sou do Tempo em que”)



Os Melhores 40 Meses da Minha Vida

E VAI DAÍ:
Por edital, soube que me deveria apresentar em Mafra no dia 24 de Janeiro de 1964 e na Escola Prática de Infantaria, a fim de frequentar o Curso de Sargentos Milicianos. Saí de Ponte de Sôr, pela matina e no combóio. Em Lisboa, pedi informações para ir para o Martim Moniz, local donde sairia a camioneta. A confusão era mais que muita e habituado que estava a ver só tanta gente junta, aquando das feiras, pensei: Há por aqui uma como a nossa de Outubro !!!

Bom, mas lá fui ter e parti para o destino... enquanto no entretanto comi as duas sandes, uma de torresmos e outra de toucinho cozido, preparadas que foram para a viagem. Mafra, surpreendeu-me, quando logo ali mirei, o convento. Será aqui? Duvidei a princípio, mas vendo na entrada um enorme grupo de juventude de cabelinhos cortados à inglesa curta e que esperava, a eles me juntei.

Preenchidos que foram, uns papéis, mandaram-me para o alfaiate que tirava medidas olhando-nos de alto abaixo, o que significou que recebi umas roupitas bem bonitas por acaso... um bivaque onde cabiam duas cabeçorras; duas camisas cinzentas nº 54 e eu até aí, usava 42; dois pares de calças, que me chegavam dos pés à cabeça; duas botas 47 e eu calçava 41.... e por aí fora salvo as cuecas, que e para andar aconchegadinho, me deram o "L" e eu vestia o "XL" e apartava prá esquerda.

A caserna, (assim chamavam ao quarto luxuoso onde me colocaram) era num 5º andar e 135 degraus para subir. Para me não sentir só, deixaram-me acompanhado por mais 151 rapazes do meu tamanho, e torná-mo-nos amigos. No dia seguinte, reuniram-nos num espaço rectangular e a que chamaram "A parada". Éramos, talvez, aí uns três mil, entre os que iam frequentar os cursos de Oficiais e Sargentos Milicianos, palavra esta, que poderemos traduzir desta forma: homens feitos, que após regresso da guerra, serão dispensados do serviço militar obrigatório e passam à disponibilidade, ou seja: ainda poderão ser chamados para a tropa, se houver alterações à ordem pública.

Juntaram-nos depois cá fora, sentados no chão e rodeando o Oficial Instrutor, ali ao lado esquerdo de quem entra... e esclareceram-nos sobre as normas em vigor, para contactos eventuais, com os residentes civis e também como distinguir os postos militares. Ficámos a saber, que a coisa começava desta forma: Recrutas... cabo... Furriel... Sargento... Aspirante... Alferes... Tenente... Capitão... etc; General... Marechal... E finalmente: 1º Cabo Miliciano.

Contentíssimo fiquei. Então não é, que o filho do meu pai, eu próprio, iria alcançar o mais alto posto, lá para Agosto e já especialista de Infantaria? e 1ª classe em metralhadora Dreyse 7,9 ? e 3ª classe em espingarda Mauser? e 1ª classe em comportamento? e atirador, terminada a instrução complementar?
(Continua)

  
Veríssimo Ferreira (2015)


Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)



9 de dezembro de 2015

Post Nº 47 - Boas Festas

José Dionísio Monteiro Cuba
Sol. Trans. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 - BCAÇ 2884

 















BOAS FESTAS



A todos os amigos e ex-companheiros da CCAÇ 2585 de Jolmete envio um grande abraço. Desejo a todos um Natal e Ano Novo com muita saúde e alegria junto das famílias. Abraços para todos.




 José Cuba em Jolmete com amigos





José Cuba (2015)



Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)



Post Nº 46 - Textos de Veríssimo (2)

Veríssimo Luz Ferreira
Fur. Mil. da CCAÇ 1422 - Pelundo














EU SOU DO TEMPO EM QUE:


(continuação)
60 - nasceu o Conde da Pedreira;
61 - a conselho do Sr. Lino, tal título dar-me-ia acesso a ter os calendários lindos da TAP;
62 - utilizei o esquema com outros e resultou;
63 - me voltei a apaixonar;
64 - a esta beldade escrevi uma carta que copiei num livro emprestado pela Gulbenkian, que de terra em terra, mandava uma carrinha biblioteca mensalmente;
65 - esperei resposta, mas nunca chegou;
66 - azar nos amores...sorte no jogo;
67 - saíram-me seis contos de réis na lotaria;
68 - comprei um ciclomotor Alpino;
69 - bati na parede da loja do Sr. Ramiro, atravessei arrojando a Rua Vaz Monteiro e fui cair dentro da farmácia Cruz Bucho;
70 - fiquei tonto e ainda não me curei;
71 - passei oito dias no hospital;

72 - chegou 1959 e eu ia fazer pois, os 17 anos;
73 - já tinha ouvido falar que havia uma coisa para comer a quem chamavam bife com ovo a cavalo;
74 - provei, gostei... aquilo era mesmo bestial;
75 - aprendi a dizer NÃO, mas foi difícil;
76 - o patrão decidiu aumentar-me para os trezentos mil réis mensais;
77 - no Liceu de Portalegre, completei a secção de letras do 5º ano liceal;
78 - mas chumbei na secção de Ciências, mais por culpa própria (ou talvez por culpa dos professores, que só me perguntavam o que eu não sabia) pois que nas noites antes das orais, andava eu a exibir-me nos bailes do Bonfim e daí partia directamente para os exames;
79 - vesti um fato completo, feito por medida e até me senti alguém;
80 - fui a Lisboa e sem companhia, tendo-me o meu pai explicado que no Martim Moniz devia apanhar o eléctrico para o Terreiro do Paço;
81 - tive azar que só passavam para a Praça do Comércio;
82 - vá lá, vá lá, que não apareceu ninguém a querer vender-me a estátua;
83 - precisei duma certidão de nascimento e vi que tinha nascido a 29 de Fevereiro dum ano que não era bissexto;
84 - fiz 18 anos... o meu pai emancipou-me para poder entrar na função pública;
85 - mil e cem escudos foi quanto passei a ganhar, o que quer dizer, que deixei de ser pobre;
86 - do pichelim passei para o bacalhau da Noruega;
87 - comecei a acompanhar o trio de arbitragem da 1ª divisão, (Srs. Courinha, Eduardo Figueira e João (?) );
88 - fiz exame e também comecei a apitar;
89 - não era isento... e as equipas que jogavam de vermelho penalizava-as inconscientemente;
(Daí, que mais tarde... exonerei-me, não sem que antes tenha levado com um pedaço de madeira na tola, durante um jogo no Estádio da Fontedeira em Portalegre e ainda cá está a marca);
90 - no colégio, como interna, havia uma garota que não me discriminava e a quem comecei a corresponder os olhares;
91 - tinha duas horas para almoçar e parte desse tempo comecei a passá-lo frente ao dito colégio para onde me deslocava em viatura própria, mais concretamente numa moderna bicicleta a pedais, qu'até mudança de velocidades tinha, pois então;
92 - eis senão quando... sou intimado pela autoridade GNR, (e a pedido da Directora) que estava proibido de andar lá na estrada em frente, pois que desestabilizava as piquenas;
93 - e eu?
94 - ri revolucionariamente... ri muito... e mais kms fiz porque passei a andar por lá, quer fosse manhã, tarde ou noite;
95 - também os professores, que me iam dando uns lamirés receberam instruções para o não fazerem só que não aceitaram tal, honra lhes seja feita;
96 - a pobre moça, recebeu ordem de expulsão e teve d'arranjar casa particular, que interna não podia estar mais;
97 - o diabo invejou-me quando me propus combater esta situação pidesca;
98 - eu era mau (e continuo);
99 - era muita mau mesmo.
100 - e porque continuava a estudar e era obrigado a pertencer à Mocidade Portuguesa e pagar os consequentes 30 escudos anuais;
101 - fui empossado da parte administrativa da coisa e escrever as respostas às questões doutros pertencentes à mesma MP;
102 - certo dia, recebi um "ofício" e onde se pretendia combinar uns joguitos de futebol ali com a rapaziada da Ponte de Sôr, e terminava;
103 – “A Bem da Nação” O Barbeiro de Benavila;
104 - morava ali perto dos Bombeiros e também aí colaborei como ajudante nas aulas de ginástica;
105 - certo dia, oiço o instrutor (que estava ali mais longe, e com a ilusão de óptica, disse, após ter mandado levantar a perna aos instruendos): "Quem é o bruto que está com as duas pernas no ar?;
106 - existia a Pensão Serras e onde eu bebia o cafézinho mais o bagação de medronho Sanchez;
107 - fui lá ao WC e li esta quadra preciosa, decerto escrita por quem ali teria estado hospedado e mal servido de alimentação:
"Adeus ó Pensão Serras
amaldiçoada sejas tu
levo ferrugem nos dentes
teias d'aranha no nu";
108 - comecei a mentalizar-me que vinham aí "as sortes" e pelo que via, lá teria que ir combater;
109 - me apercebi, que se iria de vez, a lânguida vida que tinha;
110 - namorava à séria e até já frequentava a casa da piquena;
111 - o pai dela mostrou-me os bens que possuía;
112 - ou compreendi mal ou pareceu-me qu'ele disse até, que a barragem de Montargil lhe pertencia;
113 - só mais tarde descobri qu'afinal a coisa era da Hidro-Eléctrica, mas já não podia descasar-me;
114 - nas noites de sábado, para além do mais, ajudava-o a encher copos de vinho, lá na taberna sua pertença;
115 - e para desenvolver o negócio, já que também era interessado, quando apanhava algum cliente grosso por completo, afinfava-lhe metade do copo com vinho e a outra metade com água do poço;
116 - uma vez por mês, fazia-se um baile com acordeonista, ali mesmo no estabelecimento comercial;
117 - e eu aproveitava para a malandragem, mas só lá do lado contrário onde estavam os olhos inquisidores da mãe e da avó da menina;
118 - fui aprovado para vir a ser incorporado no Exército;
119 - e como uma desgraça nunca vem só!!!;
120 - casei.
121 - para que a carne dos perús ficasse mais tenra, se lhes afinfava gargomilo abaixo, um copo de aguardente;
122 - no meu casório, fui eu o encarregado desta espinhosa missão e podem crer que fiquei bem mais ternurento...
É que dividia a meias, pois então !!!;
123 - facto verdadeiro é que: já em pequeno e quando "acampámos" na casa da minha avó Rosita Veigas e eu adoecia, a mesinha era sempre o bagaço ora fervido antes para perder o álcool, ora bebido ao natural, mas sempre adicionando-se-lhe uma boa maquia d'açúcar amarelo;
124 - a mansão era b'óptima e à noite separavam-se os quartos, com lençóis. Num dormia eu com os meus pais, noutro o meu tio João da Rosita e no último a minha avó com a minha tia Maria Rosa. Luxos, enfim...;
125 - mas foi ali naquele beco, que aprendi a andar e a apanhar "alfaiates" de dia e morcegos à noite, cantando para estes últimos: "morcego, morcego... vem à cana que tem sebo";
126 - fui viver aos cinco anos, para o Pinhal (do Domingão) e aí sim gostei.
Lacraus por tudo o que era sítio: no café, na cama, nas paredes, dentro das botas, (recordo até com muitíssima saudade aquele som lindo, quando o meu pai ia pró trabalho, e as batia no chão).
127 - O "alacrau" como se dizia lá no sítio, é um bicharoco, que aprendi a apanhar à mão, quer dentro de casa, que ali no mato escavando também à unha;
128 - o prazer que era esmagá-los !!!;
129 - nem vos digo nem vos conto;
(continua)


Veríssimo Ferreira (2015)


Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)