23 de agosto de 2015

Post Nº 29 - A Noite da Hiena (2)

Augusto Silva Santos
Fur. Mil. da CCAÇ 3306 em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)

















2 - A Noite da Hiena

Havia rumores (através da população) de que poderia estar para breve um possível ataque ao nosso quartel, daí que se acentuasse a nossa vigilância noturna e se redobrassem alguns cuidados.

Foi numa dessas noites longas que, após ter saído da messe e, me ter dirigido para o meu abrigo, ainda com as calças na mão e já de chinelos prontinho para me deitar, somos todos surpreendidos por uma curta rajada, com todo o pessoal de G3 em punho, em trajos menores e com algumas quedas pelo meio, a correr para a vala.

Rápida foi notícia de que alguém que tentava ultrapassar o arame farpado, havia sido abatido. Passaram no entanto alguns minutos (que mais pareceram uma eternidade à espera de um possível ripostar por parte do inimigo) sem que felizmente nada se registasse.

Organizado todo o esquema para se verificar o que efectivamente tinha dado origem aos tiros, lá se chegou à conclusão que o inimigo não era mais do que uma hiena que, por motivos óbvios, se havia aproximado em demasia do curral das vacas, e que tinha sido abatida por um dos sentinelas.

Não passou de um valente susto, aquela que ficou conhecida como a noite da hiena.


Jolmete - Janeiro 1972 A minha lavadeira.jpg


Jolmete - Fevereiro 1972 Tabanca.jpg


Jolmete - Março 1972 Entrada do Quartel.jpg


Jolmete - Abril 1972 Matança de uma vaca.jpg




30-06-2012
Augusto Silva Santos



Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)




22 de agosto de 2015

Post Nº 28 - Venha a Marinha (1)


Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884














Caros amigos da minha companhia 2585 de Jolmete, como está escrito no texto de abertura do nosso blog, este destina-se a publicar estórias passadas em Jolmete ou de quem por lá passou. Assim, apelo a todos os que por lá passaram, inclusive Companhia de Comandos que tinham soudades do cheiro a pólvora, como eles diziam em Outubro de 1969, quando lá estiveram, que mandem trabalhos para publicação aqui no nosso blog. Mas só estórias de Jolmete, porque das outras, já há muitas.

Publiquei, há dias, uma estória do Veríssimo Ferreira, que passou por lá na noite do 1º fogo de artifício em Jolmete. Se este não foi o 1º, qual terá sido? Digam...
E o segundo? Quando terá sido?

Amigo Manuel Carvalho, sei que pouco tempo antes de lá chegarmos Maio de 1969, tinha havido um ataque ao quartel com canhão sem recuo, ainda vimos um abrigo danificado. Será que esse foi o segundo, ou terá havido mais ataques antes?

Neste sentido, vou publicar algumas estórias do Augusto Silva Santos, que em rendição individual da CCAÇ 3306, Companhia que nos substituiu, por lá passou algumas amarguras, mas que por SORTE veio são e salvo.








Augusto Silva Santos
Fur. Mil. da CCAÇ 3306 em Jolmete - (Pelundo-Teixeira Pinto)














1 - Venha a Marinha

A primeira estória que vos passo a relatar, embora não tivesse estado pessoalmente presente, foi-me contada de viva voz por alguns elementos e inclusive pelo próprio protagonista, passou-se muito perto do local onde foram barbaramente assassinados os oficiais que estariam algum tempo antes a negociar a paz no Chão Manjaco, local mais ou menos assinalado de possível passagem dos guerrilheiros do PAIGC.

Sabendo o Comandante de Companhia dessa situação, era habitual mandar emboscar nas proximidades dois grupos de combate (normalmente emboscadas nocturnas), sendo que numa das ocasiões, e já de dia, se estabeleceu mesmo contacto com o inimigo. Se não me falha a memória, nesse contacto foi mesmo feito um prisioneiro que se encontrava ferido. Tendo as nossas tropas ficado durante algum tempo debaixo de fogo, o Alferes que na altura as comandava, apressou-se a solicitar apoio aéreo, sem que no entanto (segundo algumas opiniões) tal se justificasse, pois o contacto teria sido breve e o pequeno grupo do inimigo se dispersado rapidamente.

Ora estando o tal Alferes excitadíssimo (aos berros) a pedir o apoio em questão e, tendo o contacto já acabado, um dos Soldados que o acompanhava de perto sacou-lhe o rádio das mãos e disse alto e bom som: - Já agora mandem a Marinha também!
Como devem calcular, este episódio foi durante algum tempo objecto de comentários mais ou menos jocosos por toda a Companhia.


Jolmete 1971.jpg


Jolmete 1972.jpg

Jolmete Fevereiro 1972 Quartel.jpg


Jolmete Janeiro de 1972 na Tabanca.jpg




30-06-2012
Augusto Silva Santos




Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)



20 de agosto de 2015

Post Nº 27 - A minha passagem por Jolmete

Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884














A minha passagem por JOLMETE



Por: Veríssimo Ferreira
Fur. Mil. da CCAÇ 1422 - Pelundo















JOLMETE

Foi em Setº (ou Outº ?) de 1965.
A minha secção estava instalada no Pelundo, zona ainda sem guerrilhas nessa época e daí que pudéssemos passear até Teixeira Pinto e de quando em vez mesmo até Bula, com o jeep colocado à minha disposição.

Ainda hoje reflicto:
Porque será que não me comeram vivo?
Seria porque estávamos protegidos pelo "homem grande" em casa de quem aquartelávamos, na tabanca?
Seria que a nossa missão de lhe guardar o cofre e o recheio, movimentou influências?
Ou seria que tinham mesmo, medo de nós?
Intrigante e de tal forma, que ainda hoje passados "apenas" 50 anos, não encontro respostas.
A comida era melhor do que boa e oferecida...
Nada nos faltava... ele eram galinhas, cabras, porcos,... só para nós o pessoal branco, que eles não podiam comer tal, dada a religião.

Certo dia:
Aparece o meu Cmdt de Companhia... mais o Alferes Simões, o 2º sargento do quadro, Nuno e dois Fur's-Mil, Gualter e Higino e é-me dada a ordem:

- Vem daí connosco que também foste convidado para os festejos em Jolmete.
Fui...nem discuti, mas sem saber da importância de tal decisão.

É que graças a mim foi repudiado o 1º ataque ao aquartelamento (ao que julgo saber).

Chegámos... o cheiro a comes era mais qu'a muito e noite quase a chegar.
E quando nos dispúnhamos a papar:
Começou a fogaracha inimiga e lá se foi o objectivo em causa ou sejam:

- As fracas assadinhas na brasa, temperadas que foram com jindungo;
- Os borreguitos
- Os porquinhos.

Recapitulemos:
"Pela 1ª vez, o quartel é atacado.........."

Organizei-me, procurei a arma adequada para responder a tal situação e lá descobri o meu caro morteiro 60 e um cunhete com 6 poderosas granadas.
Fiz o reconhecimento da zona para onde as enviaria acompanhadas que seriam com os meus cumprimentos, raiva e votos de festas felizes e aí vão elas, uma de cada vez claro.

Não deviam ter conhecimento da letalidade da coisa... acabaram com a flagelação... e ouviram-se gritos de foge... foge. Em boa verdade, até eu fiquei deslumbrado com tanta luz. É que as granadas atrás citadas, em vez de explosivas, saíram iluminantes, mas que os fez tremer e "cavar", lá isso fez. Ainda hoje não devem ter percebido, porque foi que a negra noite, se transformou num ápice, em luminoso dia.

Tínhamos um ligeiro ferido nas nossa hostes, que apanhara de raspão, com uma bala no... na anca, o que lhe causava algumas dores. Não havendo enfermeiro, fiz disso, e após informação conseguida pelo ANGRC9 administrei-lhe uma injecção de morfina. Daí que cinco minutos depois, o Fur. Mil. Indy (assim se chamava) quis iniciar uma perseguição na mata, para se vingar. O guarda-costas do Capitão Corte-Real, "guardava-o" pondo-lhe à frente uma mesa de madeira porque nada mais por ali havia para fazer.

Eu?
Assei uns "xóriços", bebi uns tintos em copo de alumínio e por aí me fiquei qu'o Vat 69 fora atingido e vertera no chão vermeho.






Veríssimo Ferreira
2015



Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)