9 de maio de 2016

Post Nº 65 - Convite para 28º Convívio do BCAÇ 2884

Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884

















CONVITE PARA 28º ALMOÇO BCAÇ 2884



Convite recebido por carta e que transcrevo.

















Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)


4 de maio de 2016

Post Nº 64 - O Coronel mais porreiro que conheci

Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884 













O Coronel mais porreiro que conheci na tropa

De seu nome completo Alcino Pereira da Fonseca Ribeiro, comandante do CAOP em Teixeira Pinto nos anos de 1969 e 1970. Oficial Paraquedista, porreiro, bonaxeirão, amigo das tropas. Na altura, o CAOP  “Comando de Agrupamento Operacional”, constituído pelo Sr. General Spínola, e sediado em Teixeira Pinto, era constituído por ele, Coronel Alcino Comandante, e pelos Srs. Majores Passos Ramos, Osório e Pereira da Silva, além do Alferes Mosca, da minha Companhia, a 2585. Tudo pessoas de 1ª, se assim as posso catalogar.

Como é do conhecimento mais ou menos geral para quem esteve na Guiné a partir de 1969, desde fins de 1969 a Abril de 1970, houve uns tempos de paz autêntica (tréguas) entre as nossas forças e o PAIGC, na zona de Teixeira Pinto, incluindo Pelundo, Jolmete, Cacheu, Có, Bula e outras nas redondezas, ou seja “O CHÃO MANJACO”.

Estávamos nessa fase, e não sei precisar o mês ou dia, mas, nessa altura, num Domingo à tarde telefona (via Rádio) o Sr. Coronel Alcino para Jolmete...

- Alô... aqui é Coronel Alcino... Posso falar com o vosso Capitão Almendra? (Depois de chamado ao posto de transmissões) ...
- Alô meu Coronel, daqui fala Almendra, comandante da 2585....
- É pá, vocês têm aí cerveja fresca?...
- Sim, meu Comandante, ainda recebemos há pouco tempo frescos, ainda cá temos algumas basucas (cerveja de tamanho normal e avantajada) de 60 e 81...
Estou a pensar ir aí fazer-vos uma visita... Aqui não tenho nada que fazer ...
Ok, meu Comandante, já mandei reforçar o frigorífico, mas como sabe ele trabalha a petróleo, ainda demora um pouco a gelar...
- Não faz mal, eu vou saltar de paraquedas, e ainda demoro algum tempo. Prepare aí uma segurança, para no caso de eu cair no mato...  , Passado algum tempo...
Meu Comandante está tudo preparado... A equipe está pronta. Vai o Alferes Godinho que está de Oficial de Dia, o Furriel Gomes de Transmissões com um AVP 1, vão alguns soldados equipados com G3, ...  vai uma equipe completa para o que der e vier.
- Então quando virem um avião  a sobrevoar o quartel, sou eu... Vou num avião civil.
- Meu Comandante, boa viagem e cá o esperamos...
Passado que foi algum tempo, uma hora mais ou menos, lá apareceu um Cessna a sobrevoar Jolmete. Quem sabe se não era o nosso “Comandante POMBO” a pilotar...
- Alô Almendra (que já estava de prevenção), vou dar mais uma volta e vou saltar...
- Cá o esperamos, está tudo preparado e as basucas  já estão fresquinhas.

É evidente que a conversa não foi exactamente esta, nem eu a ouvi, mas no seu essencial, (têm cerveja fresca? Vou saltar de paraquedas) foi a intenção e pensamento dele e nosso. Ele e todos os Oficiais do CAOP eram pessoas muito queridas e frequentemente visitavam Jolmete.

Nota: ao escrever este pequeno texto deparei-me com uma dificuldade: saber se o nome do Sr. Coronel é Alcino ou Alcínio, como encontrei escrito em alguns documentos, mas sempre o conheci como Coronel Alcino. Quem souber que comente para esclarecimento.

Junto algumas fotos do acontecimento verídico, tiradas por mim.

 
Foto 1 - Aproximação 



Foto 2 - Altura para o salto



Foto 3 - Já saltou



Foto 4 - A aterragem e recolha do material



Foto 5 - A caminho do quartel



Foto 6 - Aterragem do avião Cessna




Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)



20 de abril de 2016

Post Nº 63 - Triste Aniversário

Manuel Cármine Resende Ferreira
Alf. Mil. Art. em Jolmete (Pelundo – Teixeira Pinto)
CCAÇ 2585 – BCAÇ 2884














Triste Aniversário

Caros amigos e camaradas
Hoje é o dia 20 de Abril. Por acaso alguém se lembra do que aconteceu no dia 20 de Abril de 1970 em Jolmete, precisamente há 46 anos?
Neste dia não houve saída para o mato, não saímos do quartel nem para caçar. Achámos estranho, mas o nosso Capitão Almendra, disse aos Oficiais, não sei se a mais alguém, talvez ao Dandi, depois do almoço, que se estava a passar algo de anormal.
Nesse dia iria acontecer uma reunião (a última) para a pacificação do “Chão Manjaco”, entre os chefes do PAIGC e os OFICIAIS do CAOP, num local junto à primeira bolanha a contar do Pelundo para Jolmete, a cerca de 4-5 Kms do Pelundo. Essa reunião destinava-se a integrar todo o pessoal do PAIGC pelos aquartelamentos da zona, como já estava combinado em reuniões anteriores.
No dia anterior, Domingo 19, o CAOP esteve em Bula, e ao jantar, o Sr. Major Pereira da Silva recebeu um telefonema, presume-se de Bissau, dizendo que um tal “LUIS” iria estar presente na reunião no dia seguinte. Segundo o que me lembro dos comentários da altura, diziam que ele ficou cabisbaixo, mudo e pensativo,  ... devido à presença inesperada dessa pessoa.
Estavam previstos 5 Gipes (isto é o que me lembro da altura dos acontecimentos), mas ficaram reduzidos a três, pois o Sr. Major Pereira da Silva, que superintendia o assunto, não autorizou os outros a serem “martirizados”. Lembro-me de ouvir dizer que o nosso Capelão, Padre António Gameiro queria ir, mas não foi autorizado. Eu tinha a impressão que o nosso médico Dr. Diniz Calado, também queria ir, mas ainda há poucos meses estive com ele, abordei o assunto e o próprio disse-me “que nunca essa hipótese foi colocada, não queria participar em aventuras dessas”.
Bom o local foi alterado para a segunda bolanha, a 5 Kms de Jolmete. Porquê? Como lá foram parar, cerca de 8 Kms mais a norte, mais próximos de Jolmete?
Devo confirmar que ouvi alguns tiros por volta das 3 da tarde (e muitas outras pessoas também ouviram). Foi muito comentado, pois nesse dia estávamos proibidos de “fazer fogo”, nem a caçar.
Foram barbaramente assassinados (pois estavam desarmados) os sete elementos presentes para as negociações:

Major PASSOS RAMOS
Major MAGALHÃES OSÓRIO
Major PEREIRA DA SILVA
Alferes JOÃO MOSCA
Nativo MAMADÚ LAMINE
Nativo ALIÚ SISSÉ
Nativo PATRÃO DA COSTA

Os nativos eram dois condutores dos jipes e um tradutor.
Não é meu interesse aqui entrar em pormenores, pois apenas quero lembrar a memória destes Oficiais, que devem figurar em todos os escritos com letra maiúscula.

Junto algumas fotos tiradas por mim, mas lamento não ter do Sr. Major Pereira da Silva. A primeira e segunda foram tiradas em Pelundo na inauguração da estrada Có - Pelundo, não me lembro o dia, mas foi no início de 1970.

Major Passos Ramos o primeiro à esquerda
Major Osório último à direita e de costas


Major Osório em primeiro plano


Alferes Mosca em primeiro plano ajudando na preparação da ceia de Natal (1969)




Manuel Resende (Ferreira)




7 de março de 2016

Post Nº 62 - E a Guiné sempre presente

Veríssimo Luz Ferreira
Fur. Mil. da CCAÇ 1422 - Pelundo














E A GUINÉ SEMPRE PRESENTE
Memórias avulsas

I
Se ao pisar o cais de desembarque (em finais de Abril de 1967) plagiei e gritei: "mulheres... cheguei" julgando eu, que a vidinha me iria correr melhor, mas depressa me dei conta que estava errado. Voltei para o anterior emprego de funcionário público... para vocalista do Conjunto Sôr-Ritmo... para a arbitragem de futebol... e eu sei lá o que fiz para me manter activo!
E assim se passou um ano, naquele ram-ram, com as sem jeito, mas costumadas conversas de café. No fundo, começava a sentir a saudade dos "meus" da 1422. E que falta me fazia, aquela adrenalina anterior... a alegria do "acordar" e de continuar vivo. E que falta me estava a fazer aquela camaradagem que houvera tido e que sabemos quão boa e saudável. Numa tentativa de alterar qualquer coisa que ainda nem sabia bem o quê, rumei à capital do Império, onde amenizei saudades conversando com a rapaziada amiga e com quem convivera a maior parte dos meus melhores 40 meses da minha vida.
Aqui, Restauradores em Lisboa, onde iniciei a profissão de bancário, acabei por me envolver de novo com tudo o que se ia passando, por lá longe. Primeiro, pelos contactos que começaram a acontecer com os ex-soldados Domingues, Soares e Lavado, com o ex-1º Cabo, Fernando Nascimento da minha Secção de Morteiros 60, com o ex-fur. Mil. Raul Durão, com os ex-alf. Mil's Macedo e José Simões mensalmente, com o Gualter, com o Formigo (estes dois também ex-furriéis) e mais ainda com alguns camaradas doutras companhias chegantes e com quem, ia acabando por me actualizar.
E em 1970 ou 71, fiz amizade, que se manteve por muitos e bons anos, com um Senhor Capitão, acabado de chegar do comando duma CART, operacional. Como não poderia deixar de ser, lá vieram as memórias e alguns relatos, embora a sua relutância pelo narrar coisas que lhe eram dolorosas, mesmo sendo Homem experimentado e esta tinha sido a sua 3ª comissão. Criámos um dia semanal para almoçarmos e algumas vezes com outros seus camaradas, Oficiais do Quadro e com quem eu aprofundava o mais saber. Em 1974, quando se deu a revolução, que tantos ódios (esperava-se o contrário e eu próprio, feito tonto, esperei mais amor, mas este foi-se e nunca mais voltou), que tantos ódios, repito, trouxe a este já pobre País, recebia-me ali no QG ali em S. Sebastião da Pedreira. Na porta d'armas identificavam-me, telefonavam... mandavam-me entrar até que, duas ou três vezes depois:  Ah... é o "Capitão" Veríssimo... pode entrar... vem para o cafézinho com o Nosso Major.
E foi assim que soube do desaparecimento físico, na estrada do Pelundo para Jolmete dos nossos homens (sete) através dum selvático assassínio; e foi assim que tomei conhecimento da operação a Conakry, que tanto me enche, ainda hoje, de orgulho; e foi assim, que soube da morte do Amílcar Cabral, cuja causa ainda hoje não esclarecida, embora a versão à época, seja bem diferente das que, de quando em vez por aí circulam.

II
MEMÓRIAS QUE PODERÃO ESTAR NO FUNDO DA ARCA
É um facto que contado tudo o que passámos poderão existir ainda uns resquícios, bem lá no fundo da memória e há que procurá-los. Eu próprio, continuo com dois meses muito nublados e sem saber o que aconteceu não só comigo mas também com a minha CCAÇ 1422. Porque nada tenho que fazer, para além de pescar, fazer o almoço e comê-lo, andar o qb a pé mas pouco que já me pesam as pernas, calçar embora com dificuldade, as meia elásticas, extraí-las à noite o que ainda é mais difícil, tenho lido bastante sobre aquela Guiné. Para os que lá estivemos antes de 1971 as situações descritas, estão cheias de coragem, carácter e valor sempre com um espírito de heroísmo e o sentir do dever cumprido, enquanto as posteriores e particularmente uma ou outra dos anos 1972 a 1974, afirmam um desespero constante, desânimo e o desejo de a abandonar depressa.
O sonho destes, cumpriu-se com a descolonização exemplar e não porque a guerra estivesse perdida, verdade se diga até, que alguns dizem nunca terem dado um tiro e até sentem orgulho por o não ter feito e outros dão loas aos guerrilheiros e até aos desertores, esquecendo que se estes criançolas, cobardemente o não tivessem feito, também a estadia forçada, que nalguns casos ultrapassou os 24 meses, poderia ter sido bem menor. Para estes, os que fugiram deixem que cite Teixeira de Pascoaes: "SABEIS, Ó COVARDES, O QUE É SER SOLDADO? É NÃO COMER QUANDO SE TEM FOME, NÃO BEBER QUANDO SE TEM SEDE E PODER COM O COMPANHEIRO FERIDO ÀS COSTAS, QUANDO NÃO SE PODE COM O SEU PRÓPRIO CORPO".
Outros atrevem-se a lascar postas de pescada, opinando como resolver tudo, AGORA, quando lá, se escondiam e até se orgulham de não terem actuado como deviam. Levam-me a crer que bem lá no fundo sentem remorsos, terão poucos amigos e até sentirão vergonha de si próprios. Sentem-se revolvidos por dentro? Aguentem... cumprissem com a vossa obrigação em vez de se esconderem nas baga-bagas e nos poilões. Nós, cada dia, o que desejávamos era sobreviver mais outro, na companhia dos nossos companheiros de infortúnio, que generosamente partilhavam do mesmo sentimento, da mesma luta, que bem sofrida foi. Defendia-mo-nos para não morrer... cumpríamos um dever obrigatório... quer fôssemos tropas milicianas ou do quadro e não nos acobardámos. Falo do que conheço e do que vi enquanto no mato.

III
Foi uma vez, num dia de Setembro de 1965. A CCAÇ 1422, é "convidada" a ir até Mansabá, para "aprender".  A minha Secção de Morteiros 60 é destacada para acompanhar um dos pelotões dos velhinhos ainda de farda amarela, numa operação marcada para essa noite e claro que desejosos de entrar em acção, contentíssimos ficámos por finalmente irmos saber como era aquela coisa da guerra e ganhá-la pois então. Chovia torrencialmente, a selva escura.... a progressão demorada e cheia de silêncios, mas lá chegámos ao objectivo, que rodeámos sem termos sido detectados. Foi-me determinado que incendiasse as moranças frente do local onde estávamos emboscados, logo após a ordem que receberia depois da fogaracha que iria acontecer e aconteceu e também que disparasse ao ver algum elemento armado o que também fiz. Entretido, dei a determinada altura, que estava só, com os meus oito homens, porque os outros que viera coadjuvar, já por ali não estavam. Sem guia, sem saber por onde ir, mas temente a morteiradas que começavam a cair, enviadas pelo IN, decidi organizar a defesa possível, enquanto esperava que alguém desse pela nossa falta e nos resgatasse. Meia hora depois tal aconteceu, vieram o Senhor Alferes, Cmdt do grupo, um guia e o "Manel de Mora", com quem convivo uma vez por ano e também a recriminação suavizada por ser a minha 1ª vez: É pá, f...-se, podias ter sido comido vivo, aquilo era para destruir e abandonar em passo de corrida.
FOI OUTRA VEZ EM SETEMBRO, MAS DE 1974
Depois... veio o não reconhecimento pelo facto de ter cumprido o serviço militar obrigatório e ter cumprido o meu dever: um grupo de pobres gentes, manifestavam-se (falo da época das ocupações, lembram-se?) numa estrada em frente a um Hospital e a quem buzinei para passar no meu bólide de 40 contos novo em folha, mas essas gentes resolveram atirar-me pedrinhas o que me desagradou sobretudo. Claro que saí, e perguntei do porquê, pois que eu nem pertencia à administração, nem enfermeiro era. A resposta veio pela voz de duas mulheres presentes ali na turba: Foste combatente na Guiné, colaboraste com os fascistas, és fascista. Outra argumentou: E ainda por cima, tens um carro novo! Pois bem, segundo a maldade que imperava então, só os desertores eram considerados e recebidos com pompa. Foi o tempo da gritaria do "acabemos com os ricos" ao contrário do que hoje acontece em que estão, sem gritar, a acabar com os pobres. No fundo nada mudou, nem o tratamento que continua a ser dado aos Combatentes, que lá longe no "paraíso" onde estivemos, muito do pior presenciámos.


Veríssimo Ferreira
2016


Publicado por
Manuel Resende (Ferreira)